domingo, 26 de agosto de 2018

TRAVESSIA NOS TERREIROS DOS PARENTES PUYANAWA: rumo ao universo da Ayahuasca curandeira

Por: Dedê Maia

Mais uma vez eu me encontrava entre os parentes da floresta.
O sentimento era o de sempre. Sentia-me realmente entre parentes dessa grande família florestana, e naquele momento específico, muito grata a organização do evento pelo convite, e de ter possibilitado a minha presença nesse importante evento, realizado na aldeia sagrada dos Puyanawa, nossos anfitriões. 

Essa aldeia foi construída em 2008, para a revitalização cultural desse povo. Um lugar que por si só já faz você se sentir acolhido e emocionado pela generosidade da mãe natureza, rodeando a aldeia zelada com muito cuidado pelas famílias Puyanawa, com sua floresta de muitas jóias e igarapés de águas cristalinas.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O FUSCA, A AYAHUASCA E OS POVOS ORIGINÁRIOS

O Fusca guerreiro, amarrado na TI Puyanawa
Foto: Domingos Bueno
Por: Domingos Bueno

Dia 10 de Agosto no prédio da Funai de Cruzeiro do Sul ouvi um aviso inusitado:  Daqui a pouco chegarão uns parentes que estão vindo do Pará, numa viagem de cinco dias dentro de um Fusca!

Imaginei que seriam figuras de linguagem próprias da euforia que acompanha esses momentos liminares dos encontros e congressos, onde pessoas por vezes desconhecidas ou que se reencontram procuram alinhar expectativas e ansiedades mútuas que extrapolam o sensível. Não era esse o caso.

Após alguma espera e endereços trocados por SMS eis que chega o possante 1300 com rodas de liga leve, portando três queridos txais Xypaia do Pará que formam  uma família com seu filhinho que ainda não interava um ano de idade.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O PERFUME…

Por: Jairo Lima

“...E o Perfume preencheu-me o  Ser…”

A noite fria me entorpecia os sentidos, mesclando-se com a visão fractal que tomava minha percepção etérea do ‘outro mundo’, dando movimento e preenchendo o ambiente com uma energia quase elétrica.

Eu já não sabia dizer há quanto tempo estava ali, nem quando tudo começou, a não ser pela vaga e longínqua lembrança do txai Benki Ashaninka entregando-me um pequeno copo, com um encorpado e escurecido líquido, o kamarãpy*, bebida sagrada que me guiaria nos caminhos ainda indecifráveis que eu tomaria naquela noite.  

Um toque suave, mas firme,  em meu peito, dava um compasso contínuo e sincronizado com meus batimentos cardíacos, que me acalmava e acalentava, enquanto um cheiro suave, de início indecifrável, começou a prender-me em doces sensações, somando-se ao esforço da pequena Mukani em mitigar a dor que, tal qual um algoz sem coração, torturava-me através de minhas costas. Sentía-me contorcer em dor. Seria isso decorrente da forte pressão e visões que o ‘vinho sagrado’ trazia-me em intensidade que há muito não sentia? Seria, talvez, decorrência da fadiga quase doentia dos últimos quinze dias? Não sei…

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

SOBRE PÁSSAROS E IMITAÇÕES - Parte I

Por: Raial Orotu Puri
Prólogo: “O balé de fim de tarde” 
...Desde que me mudei para a banda do Juruá no Acre, resido próximo da Catedral de Cruzeiro do Sul, a qual é parcialmente visível pelas janelas laterais do meu apartamento. Através destas janelas, eu também vislumbro um parcial do espetáculo que se dá todas as tardes na praça de frente da igreja. Vez ou outra, quando tenho tempo livre, me dedico a assistir a  toda apresentação do belo balé aéreo: a cada entardecer, durante cerca de meia hora precedendo o ocaso, centenas de passarinhos executam um conjunto de evoluções sincronizadas antes de pousar ao longo dos fios elétricos que ficam na extremidade da praça, aonde se acomodam e passam as noites. Devem haver explicações científicas, advindas da Ornitologia, ou de algum outro ramo de estudos sobre o comportamento de animais sobre tal ‘fenômeno’...  eu me limito a achar belo, poético e digno de alguma filosofia...
Escrevo este texto justamente por causa dos pássaros – os bailarinos, e alguns outros, – e por um tanto de coisas que com eles se relacionam... É que ultimamente tenho sido levada a pensar sobre este tema por conta de algumas situações vivenciadas, e que, por associação, conduzem meu pensamento à algumas classes de criaturas aladas.