Entardecer na TI Puyanawa - Foto Jairo Lima |
Segunda-feira, dia em que os jornais sempre nos trazem o cardápio político e social da semana li duas notícias tristes: a morte do Cauby Peixoto e a intenção do governo interino de rever as demarcações de terras indígenas assinadas pela presidente afastada. Quanto a primeira notícia não me abalei tanto, quanto a segunda mesclei sentimentos que ao final deixaram-me cético sobre a tal "luz no fim do túnel". Acredito que estes processos demarcatórios deveriam ter sido atendidos muito tempo atrás,evitando-se assim especulações e pressões políticas contra os mesmos.
Respirando fundo e controlando minha indignação para com as covardias e manobras contra os interesses dos povos indígenas, transportei minha mente para equilibrar este cardápio indigesto dos jornais com outro muito mais palatável, que é o assunto da postagem de hoje, grande por sinal. Desculpem a prolixidade, mas os citados abaixo merecem, vocês hão de concordar comigo ao final do texto.
Dia 17 deste mês de maio, terça-feira, a Terra Indígena Puyanawa comemorará dezesseis anos de demarcação. Porém a festa foi realizada sábado, dia 14 de maio.
Participar de um evento destes é sempre um prazer e, para quem conhece a história deste povo, sabe que vê-los dançando e cantando em uma de suas malocas tradicionais (na terra tem duas) é testemunhar um fato que vai além da simples expressão da cultura já que este povo, assim como os demais localizados na região de incidência do rio Môa sofreu um verdadeiro "genocídio cultural" por parte do patrão seringalista ao qual o município de Mâncio Lima herdou o nome. Para se ter uma ideia do que estou falando basta citar um dado: somente duas pessoas, ambas idosas, são falantes fluentes da língua tradicional indígena. As histórias de como eram tratados pelo patrão é de arrepiar qualquer espírito.
Puyanawa 1913 - Acervo SPI |
O querido Txai Antonio Macedo, sertanista da FUNAI sabe muito da história deste povo e parte da luta destes pela terra, suas vitórias e desafios vividos nestes anos que vai de 1983 quando houve o reconhecimento da FUNAI de seu território até os dias atuais mesclam-se bastante com a biografia de luta e ativismo do Txai Macêdo na região do Juruá.
Mas esta postagem não é para mastigar lembranças sombrias e, sim, divulgar e louvar as importantes conquistas deste povo em todos as frentes de luta: da organização interna aos projetos de relevância produtiva, ambiental e territorial.
Puwe e Vari puxando a cantoria |
Inauguração da maloca - Foto Jairo Lima |
Curso Pronatec na TI Puyanawa - Foto IFAC |
Recentemente a comunidade recebeu um curso do PRONATEC/IFAC na categoria "Pronatec Indígena", um projeto piloto que vem sendo desenvolvido onde os próprios indígenas atuam como formadores tendo como base uma proposta curricular diferenciada, adequada para a comunidade indígena (clique aqui).
No campo produtivo, quem gosta e aprecia a famosa farinha de Cruzeiro do Sul deveria saber que este produto é produzido em larga escala pela comunidade Puyanawa, ou seja, pode ser que aquela farinha que o querido leitor comprou aqui em Cruzeiro do Sul e misturou na sua comida ou fez aquela farofa gostosa tem o "toque indígena" desta comunidade.
Seus roçados de macaxeira (vulgo mandioca) é mecanizado e seu produto faz parte do projeto de identificação geográfica. Projeto este capitaneado pela EMBRAPA o qual já escrevi a respeito (clique aqui e aqui). Também a comunidade está atualmente desenvolvendo um projeto de análise e melhoria da produção a partir de estudos e cuidados com o solo, projeto este em parceria com a EMBRAPA e FUNAI. Isso sem falar de outros projetos produtivos como, por exemplo, a da produção de pescados (clique aqui)
No campo ambiental a comunidade vem desenvolvendo um projeto de reflorestamento de antigos
Lançamento do PGTA -Acervo CPI/AC |
Também ocorreu recentemente o lançamento do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da TI Puyanawa, construída através de parcerias entre comunidade, governo e parceiros. (Clique aqui)
Quanto a sua territorialidade, recentemente, após incessantes buscas materiais e espirituais a comunidade encontrou o local onde, segundo estes localiza-se as ruínas de sua maloca tradicional, onde foram contactados seus antepassados. Este local estava já há muitos anos sendo buscado pela comunidade. Infelizmente esta área encontra-se fora dos limites da terra. Porém, mostrando mais uma vez a garra e a persistência típica do caráter deste povo estes inciaram um projeto para adquirir esta terra, cerca de onze mil hectares. Para isso inciaram contatos com financiadores europeus, contatos estes construídos com paciência e muita diplomacia pelo Puwe com apoio de pessoas interessadas em ajudar. Como resultado destes contatos os Puyanawa estão finalizando um projeto de arrecadação de fundos que será apresentado e defendido pelo Puwe e Vari que estarão indo para a Europa na semana que vem. É importante citar que o reestudo dos limites da terra indígena por parte da FUNAI é um horizonte ainda muito distante, haja vista o contexto politico e fundiário que retardaria muito o processo e, com receio de ver esta terra ser loteada e vendida a terceiros é que a comunidade se lançou neste projeto.
Puwe (esquerda) e Joel (direita) - Foto Marco Iusten |
Dança com os Puyanawa - Foto Jairo Lima |
Para mim, escrever esta homenagem aos Puyanawa é também, mesmo que indiretamente, homenagear meu querido Txai Macêdo.
Esqueci de algo, Txai Macêdo?
Boa semana a tod@s!
Jairo Lima
Que os Puyanawa tenham sucesso nessa empreitada em busca da sua terra ancestral. lindo texto Jairo, muito grata pelas histórias.Gaby Maspã
ResponderExcluirMeu aniversário tbm é em 17 de maio, que bom saber, parabéns ao povo dessa TI e a ti, Jairo, abraço !! Roberta Graf - Tamaní.
ResponderExcluirLindo texto querido amigo! mto grato novamente
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