segunda-feira, 29 de agosto de 2016

PITSITSIROYTE: Povo Ashaninka e a musicalidade que veio de Pawa

Um dos objetivos deste blog é a divulgação do que chamo de “mundo indígena e indigenista”. Assim, vez ou outra, também estarei divulgando pesquisas, livros e outros materiais que vejo serem importantes. Dar publicidade a estes, em minha opinião, é essencial para fortalecer cada vez mais esta “teia cultural” que une não só os povos indígenas como, também, indigenistas e demais interessados.

Assim, o assunto hoje é a pesquisa sobre a musicalidade do povo Ashaninka*, realizado como Trabalho de Conclusão de Curso pelo professor, músico e cineasta Wewyto Ashaninka, da aldeia Apiwtxa, Terra Indígena Kampa do Amônia, município de Marechal Thaumaturgo.

Como músico, sempre achei muito rica a música e os instrumentos utilizados pelos Ashaninka e por isso, este tema sempre me chamou muito a atenção quando os visitava e, em 2003, tive a oportunidade de produzir e participar da gravação do primeiro CD do Benky Ashaninka.

Também foram os Ashaninka do Amônia os primeiros, no Acre, a lançarem um CD de músicas tradicionais, o Homãpani Ashënïka, em 2000.


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

SAGRADO INDÍGENA: Interações e desafios no mundo dos Yura...

Foto: House of Indians
As águas voltaram a fluir como lágrimas nos céus do Juruá trazendo o refrigério desejado e a proteção das águas contra o fogo, tal qual uma quimera insaciável que vinha destruindo nossas florestas.

No Aquiry, precisamente no meu querido Seringal Empresa (Rio Branco), a malevolência descabida da bandidagem, que cresceu à sombra da displicência estatal, queimou o acervo histórico de nossa capital. Acervo este abandonado à sorte, sem cópias de segurança guardadas em outro local, como se a memória dos dias que se passaram não merecessem atenção dos que comandam as penas do poder.

No “mundo indígena” tivemos uma semana de desencontros e muita arenga ocasionada por um evento que irá ocorrer na capital. É a tal da “Conferência Mundial da Ayahuaska”, onde os “doutores que entendem de tudo” resolveram trazer para a terra de Juramidam e dos Povos Indígenas um evento excludente e caríssimo, que deixa de fora aqueles que não têm “contatos” e recursos financeiros para participar.
Para mim, isso é o cúmulo da arrogância casada com cinismo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

CHARLATANISMO: quando os raion se apoderam da identidade indígena

Tem certas coisas que acreditava não se repetirem, depois de crer ter superado os “dias de luta”, pelo menos, aqui no Aquiry. 
Pois, não é que me enganei?

A semana que passou foi uma verdadeira miscelânea de fatos e emoções.

Começou de forma promissora, com o início de uma oficina muito importante. Trata-se do “Encontro de Parteiras Tradicionais Indígenas do Município de Jordão”, que, reunindo as queridas Huni Kuin aïbu (mulheres Kaxinawá), procura fortalecer e fomentar este trabalho.

Mas não terminou muito bem, pois, tive um revival de sentimentos e reações quando, ao atender uma ocorrência de interferência de certa denominação religiosa no pleito eleitoral deste ano, dentro das terras indígenas, fui ameaçado através de uma ligação anônima. Foi interessante, pois pude reviver certos momentos de minha vida, no passado, em que isto não seria tão anormal.

Mais interessante foi descobrir que minha reação hoje em dia continua a mesma de anos anteriores: desprezo. Claro que surge uma vontadezinha de chutar algumas “rabetas” ungidas pelo Senhor, mandando-as para o quinto das paragens ardentes do tártaro.

Este confronto sinalizou a chegada daquela época fuleira, conhecida como “período eleitoral”, onde anjos viram demônios e demônios transmutam-se em seres celestiais, sedentos pelo maná que brotará de todas as fontes possíveis, caso sejam eleitos para um cantinho à sombra, no olimpo protegido e intocável dos cargos do legislativo e executivo.

Apesar da introdução o assunto da semana é outro, como se iniciássemos a subida por um rio e em seguida entrássemos noutro.

Trata-se dos casos de “falsos índios”, ou seja, dos nawa que, por diversos interesses, assumem uma identidade indígena, ou melhor, roubam uma identidade indígena.


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

"SANITARIZAÇÃO" DA CULTURA INDÍGENA: Mais um conflito silencioso...

Jovens Yawanawa - Foto: Governo do Acre
O Acre de Juramidam e Chico Mendes está tórrido. O calor nos oprime sem trégua enquanto vemos, no horizonte, nuvens escuras que, ao invés da benfazeja chuva, são embaçamentos carregados de fumaça.

Ontem houve a abertura da Olimpíada no Rio de Janeiro. Passei batido, mais por desinteresse do que posição ideológica ou política. Assim, como já tinha indicado nas redes sociais, dediquei-me a regalos que, para mim, são bem mais afins e agradáveis.

Nesta semana que passou o disco Revolver dos Beatles completou seu quinquagésimo aniversário. Essa data me lembrou da viagem que fiz aos Yawanawá em 2002. Explico: além do meu cachimbo, quando viajo, sempre levo algum aparelho que me faz companhia, embalando-me sonoramente em meu pequeno mundo. Assim, cada viagem sempre teve a sua trilha sonora e, entre estas, a viagem que fiz aos Yawanawá teve como trilha, basicamente, este disco.
Hoje em dia, graças à tecnologia do MP3, é fácil fazer isso, mas, em 2002, além do discman, era preciso levar os CDs e um bocado de pilha.

Fechando a semana também finalizei um parecer, a respeito do impacto da BR 364 sobre determinada terra indígena. Esta atividade me custou alguns meses de leitura e um exercício hercúleo de sistematização, onde imprensei as reflexões de mais de três mil páginas de leitura em cerca de vinte e cinco laudas.
Entre estas leituras que fiz, deparei-me com algumas reflexões interessantes, que me induziram a escrever mais uma vez sobre o que chamei em texto anterior de “conflito silencioso” entre práticas universais de saúde e as chamadas práticas tradicionais dos povos indígenas.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

RAPÉ: Medicina e ciência indígena...

Desenho de Alice Haibara
Calor!
Iniciamos o mês de agosto, iluminados pelo astro rei que, além de sua luz, este ano secou nossos mananciais mais cedo, ressecando nossas matas e aumentando os focos de incêndio florestal. Mas o céu ainda não está cinza, nem a lua está vermelha, cor fantasmagórica que nos informa quando estamos no pico do verão causticante da Amazônia, sufocada pela fumaça.

A semana que passou foi agitada. No mundo indígena houve a realização de vários festivais de cultura em diferentes terras indígenas do Juruá. Também vi anúncios nas redes sociais, da realização das chamadas “vivências”, mais nova prática de etnoturismo que está começando a tomar força e se espalhar por muitas comunidades.

Para mim, outro "agito" da semana foi uma reunião em que me deparei com uma questão inusitada: uma autoridade inquiriu-me se eu tinha conhecimento sobre os “brancos” estarem comprando rapé dos indígenas e misturando com cocaína, a fim de vender nas cidades e assim prender seus usuários no costume e, por conseguinte, aumentar as vendas. Fiquei sabendo que há um verdadeiro temor, principalmente em Cruzeiro do Sul e Tarauacá de que o rapé esteja “batizado” com esta substância. Esta lenda urbana se espalhou por muitas cidades do Juruá.

Confesso que fiquei com vontade de rir da pergunta, mas, como não se tratava de uma conversa informal, e sim de uma reunião formal, controlei esta vontade.
Tentei, em linhas gerais, explicar ao inquiridor sobre este produto, que faz parte das chamadas “medicinas” dos povos indígenas, não só de nossa região como, também, de várias partes da América. Expliquei, ainda, os diferentes “tipos” de rapé que hoje são vendidos por quase todos os povos indígenas de nossa região e por algumas comunidades da floresta, como os extrativistas.
Argumentei, ainda, sobre a impossibilidade de ser feito este tal batismo, haja vista a reação física que o uso do rapé causa. Dado por satisfeito com minhas explicações, o assunto foi direcionado para outras questões.