Foto: Acervo Biraci Junior |
Por: Jairo Lima
Tivemos um pequeno terremoto no amanhecer deste domingo. Não
posso afirmar que este fenômeno não deixa de ter certa ironia poética, que
representa bem o que foi este ano, cujo roteiro em nada perderia para as
peripécias do reino caótico e disfuncional de Macbeth.
Mas também foi o ano em que iniciamos esta jornada pelos
barrancos do Acre e por reflexões de vida, tendo sempre como pano de fundo a
cultura indígena e o trabalho em indigenismo que anima a mim e a todos que contribuíram
com seus pensamentos transmutados em textos.
Conheci pessoas novas, sem conhecê-las pessoalmente, mas
que, graças a esta incrível ferramenta de comunicação chamada internet, meus
textos as tocaram de alguma maneira, aproximando-as e tornando-as parte do meu
cotidiano, como vizinhos que ao final da tarde sentam-se para prosear.
Para minha surpresa, meus textos foram recebidos com
interesse por muitos e, graças a isso, pude conhecer e ser reconhecido por
parceiros muito legais, que ampliaram minha “voz”. Entre estes parceiros não poderia
deixar de citar a Revista Xapuri, na pessoa da Maria José Weiss. Lindo. Fiquei
boquiaberto ao descobrir que as visualizações dos meus textos, nesta revista,
ultrapassavam a cifra de quatorze mil com frequência.
O blog “Crônicas Indigenistas”, que começou com meu vôo
solo, aproximou outros cronistas, transformando este espaço num “puxadinho” de
prosa indigenista e de percepções de mundo a partir da cultura indígena, rica e
diversificada em vida e em ensinamentos. A querida e preciosa amiga Dedê Maia
com seus textos profundos, carregados de história e experiência; a querida e
profunda Raial Orotu Puri com seus textos ricos em detalhes e explicações,
sempre leves e de uma clareza espantosa e tivemos ainda, ao apagar das luzes de
2016, o pesquisador e professor Domingos Bueno, dando sua contribuição preciosa.
Assim deixei de voar sozinho para ter outros voando comigo.
Tive a contribuição de outros, dando ideias,
conversando sobre possíveis temas, ajudando na correção dos textos, como minha
esposa Cris De Bortoli, ou dando o apoio moral, incentivando e reconhecendo nos comentários dos compartilhamentos semanais ou nos comentários do blog. Teve ainda aqueles que ficavam
aguardando as postagens de segunda, como leitura do café da manhã. Claro que as imagens também foram reconhecidas como mais uma pérola nas postagens, imagens estas que escolhi sempre com muito cuidado e carinho, buscando valorizar tanto seus autores quanto a quem gosta muito de vê-las neste espaço.
Mulher Ashaninka |
Não posso dizer que este ano foi “o pior ano”, mas,
certamente, não será lembrado por suas virtudes, ao contrário, para a questão indígena,
apresentou-se como mais uma página da história de lutas que parece não ter fim.
Mas, refletindo melhor, esta sensação de que este ano foi tão difícil dá-se
muito ao fato de que estamos vivendo-o, afinal, se olharmos os anos que se
passaram, onde as grandes mudanças sociais e mundiais ocorreram, veremos que
estamos somente repetindo o ciclo de transformações.
Ao passo que transmiti minhas reflexões e percepções de
mundo através de meus textos, também aprendi muito e pude calibrar melhor o
foco de minha visão sobre o mundo e sobre as pessoas. Recebi muitas mensagens
maravilhosas de incentivo e troca de impressões. Claro que nesta caminhada tive
alguns dissabores e descontentes com minhas posições, mas fazer o que né? Ser
unanimidade nunca faz parte da existência humana.
Fico feliz de ter apresentado um outro olhar sobre o “mundo
indígena”, com uma maneira diferente de ver algo que para mim dá todo sentido à
minha própria existência enquanto ser social e ser espiritual.
Sou uma pessoa positiva por natureza. Vejo sempre a luz
no fim do túnel. Creio sempre que “dias melhores virão”. Assim, de maneira
geral, busquei transmitir esta mensagem para mim mesmo, através dos textos e,
para minha felicidade, esta mensagem também atingiu outros.
Eu... lambuzado de lama pelas mulheres Noke Koi |
Assim, desejo a todos que me leem neste momento que
tenham uma boa passagem de ano. Que tudo se renove em ondas positivas e ânimo para
continuar a jornada. O fim da estrada não está perto, mas nem por isso é motivo
de desânimo. Afinal, o mundo se constrói com o movimento, com a dinâmica que
não o deixa ficar parado. Como bem disse a canção de Chico Science: “um passo à
frente e você não está mais no mesmo lugar...”.
O blog dará uma pausa neste “resto” de ano, mas estaremos
de volta no acender das luzes do próximo ciclo. Mas, nesse período, teremos a
revista Xapuri publicando textos do blog, que ainda não haviam sido divulgados
nesta revista.
Mais uma vez, agradeço a todos por dividirem comigo o
espaço neste barco que navegamos no ano de 2016. Graças a vocês não me senti
sozinho subindo este rio.
E vamos em frente, passo a passo, pisada a pisada, remada
a remada.
Boa semana e bom fim de ano a tod@s!
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