Nesta semana não teremos postagens de Jairo Lima, poiso mesmo se encontra em atividade na Terra Indígena Puyanawa
domingo, 27 de novembro de 2016
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
AS ÁGUAS E O CÉU DE DIAMANTES DO HENÊ BARIÁ
Presente Divino Maraguá - Uziel Gaynê Maraguá |
Por: Raial Orotu Puri
Acabo de retornar de uma
viagem à Terra Huni Kuĩ Henê Bariá Namakia,
para participar da 23ª Assembleia Ordinária da Organização dos Povos Indígenas
do Rio Envira – OPIRE, e este texto trará algumas impressões que me foram
proporcionadas por esta experiência. Esta não é a minha primeira ida a uma
Terra Indígena no Acre, tampouco o é a esta Terra específica, razão pela qual
não chego a ser uma “marinheira de primeira viagem”. No entanto, por diversas
razões, digo de antemão que se tratou de uma experiência singular.
A primeira singularidade foi
que, devido à demora no deslocamento entre Rio Branco e o município de Feijó,
derivado em grande parte pelas péssimas condições da BR 364 – sempre ela! –
chegamos muito tarde à cidade, e acabamos perdendo a carona que havíamos
tratado com o pessoal da Funai. Assim, foi necessário encontrar outra carona. Na ‘beira’, indicaram-me que o Cacique Jerônimo Barbosa estaria de partida
assim que conseguisse arrumar o motor de seu barco e consegui com ele a
confirmação da carona, e assim acabamos partindo imediatamente, para desespero
de meus colegas, que estavam ansiosos pelo adiamento da continuidade da viagem para
o dia seguinte.
Seguimos no casco* menor e
mais ligeiro, o que neste caso, significaria que a viagem duraria cerca de seis
horas, e, dado o horário de partida, resultou em que boa parte do percurso
fosse feito à noite. Não vi isso como necessariamente arriscado ou perigoso,
pois, é até desnecessário frisar a maestria dos parentes na condução de barcos.
Além disso, fomos poupados do sol inclemente que nos afligiria se tivéssemos
saído mais cedo.
E fomos... a duas horas de
viagem, depois de contemplar um pouco do belo pôr do sol descendo sobre as
águas do henê bariá (nome em Hãtxa Kuĩ** dado ao rio Envira), a noite
chegou, e em breve pude reencontrar o
motivo maior e primeiro da minha paixão por esta terra: o céu do Acre, com suas
milhares de estrelas.
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
DIETAS: Equilibrando a substância e o conteúdo do ser...
Por: Jairo Lima
- Não come isso aí
não txai! – Alertou-me Maru fazendo-me cessar o movimento de levar à boca
uma colherada de um apetitoso pirão de peixe, e olhar para o prato em busca de
algo estranho que alertasse meu parceiro de viagens.
- O que foi? –
Perguntei, já achando que tinha algo errado com a comida.
- Esse peixe aí tu
não pode comer, se não vai afetar tua melhora – Respondeu-me Maru
tranquilamente, sem precisar de mais detalhes eu entendi que ele se referia à
“dieta” que eu deveria seguir, pois estava me recuperando de uma infecção e
aquele alimento seria por demais “reimoso”*.
Desisti imediatamente daquela iguaria às margens do rio
Taraya (Tarauacá), enquanto descansávamos à noite no batelão, após um dia de
muito sol e poucas novidades em nossa subida em direção à aldeia Goiana, Terra
Indígena Praia do Carapanã. Acabei tendo que me contentar com uma farofa de
carne moída.
A conversa então seguiu sobre a questão das dietas, com
os tipos de comida que deveriam ser evitadas ou usadas, de acordo com as
idades, condição física ou de saúde da pessoa.
Assim, pelo restante de minha estadia nesta Terra
Indígena até meu total reestabelecimento, segui à risca a dieta indicada pelo
Maru e pela Parã.
Essas são minhas lembranças de 2004, e não foi meu
primeiro contato como assunto, mas, foi a primeira vez que dei a devida atenção
ao tema. Principalmente pelo fato de estar em recuperação de uma enfermidade e
a última coisa que eu queria era passar o restante de minha viagem doente, a
“dias”** de distância de um hospital.
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
VAKEHU SHENIPAHU YAWANAWÁ
Tata Txanu Yawanawá: Foto: Tashka Yawanawá |
“Revisitando a
memória de um sonho”
Por: Dedê Maia
Em setembro de 2015 fui convidada por Tashka, coordenador
da ASCY – Associação Sociocultural Yawanawá - para participar de um “sonho” seu
e de Laura, sua companheira, que envolvia as crianças, o qual o batizei de “Território Brincante das Crianças Yawanawá”
durante sua elaboração.
Mais que um desafio foi prazeroso contribuir e sonhar
junto esse sonho do Tashkã e da Laura.
O universo infantil indígena, embora eu não tenha, ao
longo do meu trabalho como indigenista, me debruçado exclusivamente a este tema, ele sempre me encantou e sempre esteve presente durante a minha trajetória entre as
diferentes Terras Indígenas, quando assessorava os professores indígenas das
escolas da floresta, através do “Programa
de Educação: Uma Experiência de Autoria”, da Comissão Pro-índio do Acre
(CPI/AC).
Este universo nos leva a refletir pelos diferentes e
muitos aprendizados que passamos ao longo da vida como: que o aprender e o
fazer acontecem das mais variadas formas e em diferentes momentos, e em
diferentes tempos e; que os conteúdos destas aprendizagens e com quem se
aprende também é diverso em cada lugar.
TATA TXANU NATASHENI YAWANAWÁ
Tata Txanu - Foto: Tashka Yawanawá |
Por: Tashka Yawanawá*
Sentado numa rede, um
pajé reza toda a noite para curar uma pessoa enferma. Reza também para a
comunidade global viver saudável em harmonia com as pessoas e o meio ambiente em
que vivem. João Ferreira em
Português, e Tata Txanu Natasheni em Yawanawa, raquítico, com um
semblante suave, caminhada leve, de voz fraca, assim é o Tata.
Engana-se quem pensa
que se trata de uma pessoa frágil. Tata possui uma energia de dar inveja a
qualquer jovem. Ele dirige, canta e dança durante todo dia e a toda noite,
durante os 5 dias do Mariri e Festival Yawanawa. Quem tiver o privilégio e a honra
de conhecê-lo, descobre que esse velhinho tão humilde e caladinho é um Rei no
mundo espiritual.
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
DIREITOS DOS POVOS INDÍGENA: É preciso saber para poder lutar!
Quadro de Elvis Silva |
Por: Raial Orotu Puri
Este texto foi grandemente
motivado por minha recente experiência de ministrar um mini curso no X Simpósio Linguagens e Identidades da UFAC.
O curso, proposto ainda no início do ano, intitulava-se “Saber Direito: curso instrumentação de Direito para Indígenas”, e
tratou-se de minha segunda tentativa de emplacar uma proposta que julgo muito urgente:
a necessidade de prover capacitação na área jurídica para os povos originários.
Este mini curso compreendeu
quatro dias de aula, nas quais exerci uma das atividades que mais me dão prazer
na vida: a docência. Nesse sentido, posso dizer sem sobra de dúvida, que
terminei a semana me sentindo feliz e realizada. Ao mesmo tempo, o curso foi
também algo frustrante, tendo em vista que não consegui atingir o público alvo:
à exceção do querido professor Iberê, os meus alunos eram todos raion (não-índio). Felizmente, no entanto,
eram raion de um tipo específico, a
quem convém também falar, posto que sabem ouvir, e se dispõe a participar dessa
tão grande luta que representa a causa indígena.
Devido a esse coeficiente de
fracasso, permaneço ainda na minha batalha pela consolidação de um curso de
Direito que seja efetivamente para indígenas.
O porquê dessa necessidade tão urgente é o que pretendo tentar expor aqui...
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
ASHANINKA: O poder da beleza...
Por: Jairo Lima
Sempre que dou alguma palestra, ou atendo estudantes e
pesquisadores que buscam saber sobre os povos indígenas do Acre, costumo usar a
metáfora do “continente europeu”, para me referir a estes povos. Explico:
Imagine o continente europeu e seus países, com seus povos e aspectos
culturais. O que eles têm em comum? Bem, todos estão na Europa. Falam a mesma
língua? Bem, alguns sim outros não. Todos tem o mesmo aspecto cultural? Não,
alguns até tem aspectos parecidos, mas outros têm aspectos totalmente
diferentes.
Pois bem. Da mesma maneira é nosso Pindorama e, em menor
escala, o Acre indígena, que tantos povos abrigou no passado e, atualmente,
possui mais de trinta e quatro Terras Indígenas, onde habitam dezesseis povos.
A cultura destes possuem pontos em comum e outros totalmente singulares. Tal
qual o velho continente.
Esse preâmbulo todo é para focar em um ponto central que,
acreditem, ainda é de desconhecimento da grande maioria da população acreana (e
do Brasil, seguramente): os povos originários (que chamamos índios) não são
todos iguais! Parece lógica e clara esta afirmação, mas acreditem, esta lógica
e clareza não se estende a todas a mentes, infelizmente.
E o que torna esta diversidade tão rica e maravilhosa são
justamente as singularidades que compõem esse mosaico cultural.
Em geral vemos comumente nos filmes, novelas, revistas e
outras formas de comunicação de massa, referências ou deferências em relação a
aspectos culturais de algum país estrangeiro, aspectos que, em muitos casos,
passam a ser imitados, principalmente pela juventude, ou incorporado a certos
hábitos e costumes dos mais velhos. Isto é visto como um processo de
“refinamento” social, uma evolução cultural, uma mostra de superioridade. Tem
também, os costumes ditos “exóticos”, que passam a ser replicados como mostra
de uma fina interação entre o ser humano contemporâneo e o “primitivismo”
essencial à sua existência.
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
PENSAMENTANDO....
Huni Kuin - foto: acervo CPI-AC |
Por: Dedê Maia
E os textos do meu amigo Jairo Lima - como sempre
pérolas, não só pelos temas relevantes que ele nos trás, mas também pela forma peculiar
que apresenta seus yumakin (recado
para longe) - Instigam o meu “pensamentar”!
Esse tema do “Sagrado Indígena” que ele recentemente
expôs tão brilhantemente com suas considerações, levantando questões
relevantes, nos convida a uma boa reflexão nesse “tempo da cultura indígena”.
Assunto bastante polêmico, eu sei! Com certeza incomoda muitas
pessoas, e por vezes provoca sentimentos raivosos. Mas, fazer o que? Não dá
para esconder minhas convicções nesse ponto da minha estrada. Não dá para
guardar minhas indagações e observações, sobre pena de ficar mal comigo mesmo,
e me perder em caminhos que não me levarão a lugar nenhum. Essa não é a minha escolha.
“A coisa mais
bonita que temos dentro de nós mesmos é a dignidade. Mesmo se essa dignidade
anda bem maltratada... Mas, bonito mesmo é florir no meio das dificuldades...!!!”
- Assim lembra minha amiga Eliane
Potiguara em um de seus belos poemas.
Não ando a cata de votos ou “curtidas”. Minha mensagem
vai para quem tiver a fim de ouvir. Ou melhor, de ler, refletir, responder, e
até discordar. Afinal não sou dona de verdades. Apenas compartilho minhas
reflexões, meu ponto de vista com aqueles que bem receberem, mas não
necessariamente, quem as ler precisam concordar.
A princípio comecei a escrever um simples comentário
sobre o texto do Jairo. Ao final virou um textão de tanto que ele me fez
pensar.
Mas, vamos lá! Seguindo essa “trilha” aberta por esse
amigo, com tantos assuntos importantes levantadas por ele nesse caminho, e que
me fizeram “pensamentar” tantas coisas!
Sagrado
Indígena – Mercantilismo, Pirataria, ou Valorização?
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
A "GENTINHA"* MANDA AVISAR: ESTAMOS BEM VIVOS!
Acredito
que a melhor forma de começar este texto, é contando da onde veio a demanda por
ele. Pois bem, alguns meses atrás, eu conversava com o Jairo, e em dado momento
da conversa, ele me perguntou mais sobre meu povo. Dentre as perguntas feitas,
ele quis saber em que pé estaria a nossa luta pela terra. Acontece que, como eu
expliquei para ele, a luta do meu povo por uma terra passa por um nada pequeno
detalhe: nós ainda estamos lutando para provar que existimos.
Eu
pertenço ao Povo Puri, também denominado Telikong, ou Paqui. Uma busca que
qualquer curioso faça no google pode informar que este povo pertence ao tronco
linguístico macro-jê, e suas terras originárias estavam espalhadas por uma
região que hoje corresponde a parte dos estados de Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, na região do rio Parnaíba e Serra da
Mantiqueira. Os textos - sempre escritos no passado - também informam aos
leitores que os Puri possuíam uma divisão em "pelo menos três subgrupos:
Sabonan, Uambori e Xamixuna". E que "No séc. XVIII, antes de serem
vendidos como escravos, foram estimados em mais de 5.000 índios. No séc. XIX,
foram aldeados em São Fidelis e na Missão de São João de Queluz, registrando-se
655 índios Puri em Resende, em 1841. Em 1885, Ehrenreich localiza remanescentes
Puri no baixo Paraíba" (Freire e Malheiros, 2010).
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
MERCANTILISMO DO SAGRADO INDIGENA: Pirataria ou valorização?
Mulheres Noke Koi - Foto: Ag. Notícias do Acre |
Ontem recebi a visita de um grupo de índios do povo Noke
Koi (Katukina) que, entre outras questões que precisavam discutir, me
perguntaram a respeito de um certo site, cujo endereço consta em um país
estrangeiro, de venda de produtos e medicinas indígenas que utiliza o nome
deste povo.
Também ficaram impressionados com certos produtos que,
segundo o site, são oriundos deste povo, como por exemplo, curipes e rapé.
Entrei no site e, após uma rápida leitura do seu
conteúdo, expliquei para eles a situação orientando-os sobre os devidos
processos legais referentes à questão, alertando, claro, sobre a enorme
dificuldade de se fazer algo contra sites em outros países.
Essa mesma reclamação, sobre este mesmo site, me foi
apresentada por algumas lideranças dos povos Yawanawá e Huni Kui.
Situações como esta, ao contrário do que possa parecer,
não é tão incomum, no que se refere aos conhecimentos e patrimônio material e
imaterial dos indígenas amazônicos, sendo muito fácil encontrar produtos ditos
“indígenas” em sites tanto no Brasil quanto fora deste.
Fiz uma busca rápida na internet e pude constatar, para
minha infelicidade, que o comércio do sagrado indígena acreano é o campeão de
ofertas. Nestes, podemos encontrar sananga, rapé, kambo, e seus respectivos
acessórios para aplicação. Topei com outros produtos também, como mudas de
chacrona e de jagube (respectivamente folha e cipó, base do preparo do huni).
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