Por: Domingos Bueno
"Os brancos pensam que índio é igual passarinho: tá lá no mato vivendo livre, solto... É só disso que precisam..."
Dessa forma uma liderança Kaygang começou sua fala durante um encontro recente em Curitiba, PR, para discutir visibilidade e violência contra indígenas, que revela algo que eu já refletia em torno dessa relação ambígua que estabelecemos com as sociedades tradicionais.
Desde a invasão colonizadora das Américas até hoje, os indígenas ocupam um lugar difuso e liminar tanto no imaginário popular como nas políticas oficiais. No chamado descobrimento oscilavam entre ingênuos desconhecedores do pecado, vivendo em estado de graça no paraíso Adâmico, até bárbaros selvagens (bárbaros porque etimologicamente eram estrangeiros que falavam uma língua diferente e selvagens porque viviam na selva), que praticavam canibalismo; uma gente sem fé, sem lei e sem rei que dá pra traduzir por herege, sem religião e igualitários, ou seja, que lutavam contra todos os valores e práticas de dominação que as sociedades "civilizadas" (domesticadas) utilizavam.