sexta-feira, 2 de novembro de 2018

VISITANDO A GALERIA DE OBRAS BIZARRAS E SURREAIS

Por: Jairo Lima

“Oi, tudo bem? Você está sumido!
Não está mais escrevendo?”

Essa mensagem, enviada por uma querida amiga, brilhou na telinha impessoal do meu celular, trazida pelo primo da atual tecnologia de comunicação, cuja alcunha tomou o intimismo típico para as pessoas, como se este já fizesse parte da família: zap zap.

Essa ‘cutucada’ somou-se a outras que venho recebendo ao longo dos quase dois meses de meu silêncio e ‘ausência social’, tanto literária quanto física. Porque?  Não sei precisar ao certo ou, talvez, até poderia se a isso me quedasse o pouco de interesse que me move para justificativas daquilo que, a priori se passa despercebido até para mim mesmo.

domingo, 9 de setembro de 2018

BANHO DE ERVAS E UMA ‘GARRAFADA’: Purificando o corpo e o espírito...

Huni Kuin e o banho de ervas - Foto: Camila Coutinho
Por: Jairo Lima

Depois de quase um mês após o ritual final da 2a Conferência Indígena da Ayahuasca posso dizer que, para mim, este ritual ‘fechou’. E tive essa sensação após o segundo dia de banhos com ervas medicinais na aldeia Shane Kaya, aos cuidados do velho Shoaynë e de suas filhas e netos, quando, ao sentir o líquido morno e cheiroso derramando-se sobre minha cabeça senti - literalmente - o mundo girar: - “Melhor tu ficar sentado”. - Mukani falou com sua voz suave, enquanto passava em minhas costas as folhas quentes da fervura. Foram três dias de ‘banhos’ muitos fortes, e cheios de significados.

Terminado estes dias de lavagens do corpo e do espírito voltei para casa. Na mochila um frasco com dois litros de uma ‘garrafada’ preparada pelo Shoaynë, para continuidade da ‘dieta’ iniciada na aldeia. Digo a vocês, caros leitores: pensem num remédio forte! Mexeu com muitas coisas em mim.

domingo, 26 de agosto de 2018

TRAVESSIA NOS TERREIROS DOS PARENTES PUYANAWA: rumo ao universo da Ayahuasca curandeira

Por: Dedê Maia

Mais uma vez eu me encontrava entre os parentes da floresta.
O sentimento era o de sempre. Sentia-me realmente entre parentes dessa grande família florestana, e naquele momento específico, muito grata a organização do evento pelo convite, e de ter possibilitado a minha presença nesse importante evento, realizado na aldeia sagrada dos Puyanawa, nossos anfitriões. 

Essa aldeia foi construída em 2008, para a revitalização cultural desse povo. Um lugar que por si só já faz você se sentir acolhido e emocionado pela generosidade da mãe natureza, rodeando a aldeia zelada com muito cuidado pelas famílias Puyanawa, com sua floresta de muitas jóias e igarapés de águas cristalinas.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O FUSCA, A AYAHUASCA E OS POVOS ORIGINÁRIOS

O Fusca guerreiro, amarrado na TI Puyanawa
Foto: Domingos Bueno
Por: Domingos Bueno

Dia 10 de Agosto no prédio da Funai de Cruzeiro do Sul ouvi um aviso inusitado:  Daqui a pouco chegarão uns parentes que estão vindo do Pará, numa viagem de cinco dias dentro de um Fusca!

Imaginei que seriam figuras de linguagem próprias da euforia que acompanha esses momentos liminares dos encontros e congressos, onde pessoas por vezes desconhecidas ou que se reencontram procuram alinhar expectativas e ansiedades mútuas que extrapolam o sensível. Não era esse o caso.

Após alguma espera e endereços trocados por SMS eis que chega o possante 1300 com rodas de liga leve, portando três queridos txais Xypaia do Pará que formam  uma família com seu filhinho que ainda não interava um ano de idade.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O PERFUME…

Por: Jairo Lima

“...E o Perfume preencheu-me o  Ser…”

A noite fria me entorpecia os sentidos, mesclando-se com a visão fractal que tomava minha percepção etérea do ‘outro mundo’, dando movimento e preenchendo o ambiente com uma energia quase elétrica.

Eu já não sabia dizer há quanto tempo estava ali, nem quando tudo começou, a não ser pela vaga e longínqua lembrança do txai Benki Ashaninka entregando-me um pequeno copo, com um encorpado e escurecido líquido, o kamarãpy*, bebida sagrada que me guiaria nos caminhos ainda indecifráveis que eu tomaria naquela noite.  

Um toque suave, mas firme,  em meu peito, dava um compasso contínuo e sincronizado com meus batimentos cardíacos, que me acalmava e acalentava, enquanto um cheiro suave, de início indecifrável, começou a prender-me em doces sensações, somando-se ao esforço da pequena Mukani em mitigar a dor que, tal qual um algoz sem coração, torturava-me através de minhas costas. Sentía-me contorcer em dor. Seria isso decorrente da forte pressão e visões que o ‘vinho sagrado’ trazia-me em intensidade que há muito não sentia? Seria, talvez, decorrência da fadiga quase doentia dos últimos quinze dias? Não sei…

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

SOBRE PÁSSAROS E IMITAÇÕES - Parte I

Por: Raial Orotu Puri
Prólogo: “O balé de fim de tarde” 
...Desde que me mudei para a banda do Juruá no Acre, resido próximo da Catedral de Cruzeiro do Sul, a qual é parcialmente visível pelas janelas laterais do meu apartamento. Através destas janelas, eu também vislumbro um parcial do espetáculo que se dá todas as tardes na praça de frente da igreja. Vez ou outra, quando tenho tempo livre, me dedico a assistir a  toda apresentação do belo balé aéreo: a cada entardecer, durante cerca de meia hora precedendo o ocaso, centenas de passarinhos executam um conjunto de evoluções sincronizadas antes de pousar ao longo dos fios elétricos que ficam na extremidade da praça, aonde se acomodam e passam as noites. Devem haver explicações científicas, advindas da Ornitologia, ou de algum outro ramo de estudos sobre o comportamento de animais sobre tal ‘fenômeno’...  eu me limito a achar belo, poético e digno de alguma filosofia...
Escrevo este texto justamente por causa dos pássaros – os bailarinos, e alguns outros, – e por um tanto de coisas que com eles se relacionam... É que ultimamente tenho sido levada a pensar sobre este tema por conta de algumas situações vivenciadas, e que, por associação, conduzem meu pensamento à algumas classes de criaturas aladas. 


domingo, 29 de julho de 2018

E O RAPÉ, HEIN?: É o assunto do momento? Eu tenho outros...

Por: Jairo Lima

A secura desse verão amazônico tá de um jeito que o velho Juruá está com poucos metros de profundidade, enquanto seu ‘irmão’ da capital, o rio Acre, em breve ficará menos de um metro…

Eu aqui passando mal com a falta de umidade fiquei matutando sobre três assuntos, que não são congruentes em sua totalidade, mas, que na essência, tem muito a ver um com o outro: rapé; 2a Conferência Indígena da Ayahuasca e; meu irmão querendo um ‘desenho’ pra fazer uma tattoo…

Sobre o rapé, assunto que escrevi bastante há uns dois anos atrás, a novidade foi que um grupo de txais buscaram o Ministério Público para denunciarem a banalização do uso e comércio do rapé indígena, pedindo apoio das autoridades para regulamentar e/ou criar mecanismos de proteção ao uso tradicional, pois, segundo os denunciantes, estão misturando o rapé com álcool e drogas, bem como o mesmo está sendo usado de maneira abusiva… etc etc…. (clique aqui para ver a matéria).

É um movimento interessante esse aí dos txais, claro que sem muitas chances de dar algum resultado, mas, ao menos, vale a intenção pôr o assunto de volta ‘na roda’, ao mesmo tempo que traz para o papo as instituições do poder estatal.

Ora, que estão ocorrendo abusos isso não é novidade, e, infelizmente, não é só entre os dawa (não-índios) não. Tem muitos txais indígenas que vem esquecendo os cuidados com seu uso.

sábado, 21 de julho de 2018

ENTRE LEMBRANÇAS E URTIGAS: Encontro feliz com duas guerreiras Yawanawá…

Por: Jairo Lima

A chuva veio!!!

Finalmente, depois de muitos dias de secura e poeira, do céu as gotas de vida caem sobre o Juruá, trazendo aquele cheiro gostoso de floresta molhada e a paz de um céu cinzento.
Nessa semana que passou, enquanto o corre-corre para a organização da 2a Conferência Indígena da Ayahuasca trazia-me cansaço, um punhado de estresse e muita pentelhação de pessoas que, até então, nem imaginava que soubessem de minha mísera existência, recebi uma visita que, além da surpresa, trouxe consigo um jamaxim* cheio de lembranças e boas energias, afastando para longe os maus humores dos últimos dias.

A visita foi das irmãs Mariazinha e Julia Kenemeni Yawanawá, bem conhecidas nesse mundão como ‘caciques’, a primeira, inclusive, tendo sido citada em matéria do jornal O Globo sob o título “ Primeira cacique mulher do Brasil cria desenhos para coleção de grife carioca”**. A segunda, por sua vez, além de liderança de seu povo, também é muito conhecida pelas vivências e trabalhos que participa, tanto em sua comunidade como numa infinidade de encontros e rituais tanto em sua comunidade, como, também, mundo afora.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

OS PÁSSAROS AZUIS VOARAM… E EU VOEI COM ELES…DE NOVO...

(Foto: Alessandra Melo)
Por: Jairo Lima

Passou-se uma semana...Mas eu ainda estou na emanação do que foi, ao menos para mim, mais uma linda vivência em uma das muitas comunidades indígenas desse amado e inexplorado Juruá (socialmente inexplorado, para ser mais exato).

Certamente que estou me referindo à festa de pré-lançamento do CD Xikari Niiti Shane Kaya, que ‘tomou corpo e nasceu’,sob a  batuta da Profa Cristiane De Bortoli (IFAC) - e que nesse texto me refiro à mesma como Cris - , contando com a participação do Sananga Records e, claro, da comunidade Shane Kaya. Foi certamente uma experiência gratificante para todos…

Eu já havia escrito um texto anterior sobre esta comunidade que, desde minha primeira visita lá, tomou-me de assalto, e pela qual desenvolvi os mais ternos sentimentos e, também, a ‘curiosidade’ de estudar e conhecer mais sobre a cultura estética, material e imaterial do povo Shanenawa (Povo do Passarinho Azul, em tradução livre - Shane = pássaro azul e; Nawa = Povo).

quarta-feira, 4 de julho de 2018

SOBRE COISAS ESTRANHAS ESTRANHAMENTE APARECIDAS, E SOBRE OUTRAS QUE NÃO FARIAM FALTA SE SUMISSEM…

Por: Raial Orotu Puri

Este texto começa com o fenômeno meio poltergeist de um livro que surgiu em minha estante. Bom, o aparecimento em si não foi exatamente classificável como um poltergeist propriamente dito, já que o livro não fez nenhum barulho* que eu tenha notado. Em todo o caso, pelo fato de eu realmente não saber de onde ele veio, houve um certo barulho de meu cérebro em tentar entender de onde raios ele veio. E mais ainda quando atinei sobre seu conteúdo.

O mistério quanto à origem permanece, sobretudo por ter me dado ao trabalho de lê-lo, após o que concluí que jamais, em sã consciência, eu compraria um livro assim. Pensei também que talvez houvesse sido um presente, mas as pessoas de quem costumo receber presentes também negaram serem os presenteadores... A dúvida permanece, portanto.

Escrevo esta crônica, como eu disse, devido a este livro. Não exatamente por sua origem misteriosa, mas pelo que li nele, e que não me agradou. (E, a propósito, espero sinceramente que os próximos surgimentos miraculosos sejam de algum dos muitos títulos ardentemente desejados por mim. Inclusive, aos eventuais interessados, informo que possuo uma lista pronta que pode ser solicitada a qualquer momento...).  

domingo, 17 de junho de 2018

SOBRE KAMBÔ, HUNI, ESPÍRITO E CONTROLE…

Por: Ibã Huni Kuin Inu Bake

Bom dia txai Jairo!

Muito bom txai, duas décadas de estrada e de estudo. Que legal, pelo menos tem pessoas que estão vendo essa realidade acontecer.

Sou filho do Kupi, tenho 37 anos e desde que nasci acompanho meu pai, e nesse acompanhamento eu, mesmo sendo indígena, não estou habilitado a fazer certos tipos de trabalho, principalmente a medicina do kambô, que é como uma armadura onde você vai se proteger e camuflar, por uma coisa que vai te proteger.E ainda existem outros detalhes da aplicação que é a dieta e o acompanhamento com as ervas medicinais.

E hoje você encontra todo mundo aplicando, como se fosse qualquer tipo de brincadeira ou uma ‘pegação’.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

AINDA NO PAPO SOBRE O KAMBÔ...

Por: Jairo Lima

Entramos no sexto mês do calendário gregoriano, dedicado à esposa do deus Júpiter, e aqui pras bandas do Juruá, onde, literalmente, “o vento faz a curva” entramos de vez no ciclo dos famosos e muito buscados festivais indígenas. Eu mesmo estou me planejando para acompanhar uns três neste ano.

Mas é nesse período, também, que as atenções redobram para o ‘enxame’ de espertinhos e ‘gurus’, que também se aboletam e infernizam tanto as comunidades quanto o juízo e o bom senso de qualquer criatura pensante.

É a bagaceira estereotipada de sempre. É incrível como essa galera não se toca. Pior: geralmente tem um bando de seguidores, que, em menor ou maior grau, seguem estes figuras como se estivessem às portas da perdição infernal… enfim.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

VIDA LONGA À YUBAKA HAYRÁ

Por: Maíra Dias

Passados alguns meses da Yubaka Hayrá*, um convite para a escrita de um texto sobre essa conferência tão especial me fez voltar no tempo. Olhar imagens, reler textos e refletir. Me alegrar pelos desdobramentos que estão ocorrendo, que confirmam para breve um novo encontro, o avanço dos encaminhamentos. Vibrar por ter tido a oportunidade de assistir esse momento histórico de troca e alinhamento, de ver garantidos replantios dessas sementes ancestrais. Lembrar dos momentos mágicos, encantados: línguas, cantos, adornos, pinturas. Relatos emocionantes de histórias de vida. Voltar àqueles dias é como rememorar um sonho lúcido. Mas também consigo examinar tudo que mudou em mim e nas minhas elucubrações, nos textos que na lida acadêmica vou escrevendo, nas teses a serem construídas neste meu doutorado em curso. A Yubaka Hayrá me ajudou a encontrar sentidos no que venho estudando, a entender um pouco da dimensão da ayahuasca dentro dessas comunidades, dentro dos seus modos de vida, e sobretudo do quanto é importante o reconhecimento e salvaguarda dessas referências culturais, da garantia do exercício de seus direitos humanos à cultura, à memória e às suas identidades culturais.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

EM MEIO AO CAOS… eu estou na paz…

Por: Jairo Lima

Os dias não tem sido nada fáceis em nossa Pindorama: caminhoneiros, políticos corruptos, período pré-eleitoral e outras tantas lambanças vem afetando a já difícil existência dos brazuca.

Um conhecido mandou uma mensagem oferecendo uma camisa da seleção brasileira, por um preço ‘bem camarada’. Questionei o porque dessa inusitada mensagem  ele me respondeu que ‘ao menos temos a copa do mundo para relaxar a cabeça…” - Copa?? Nem me toquei que tem esse troço no mês que vem, talvez porque não assisto futebol, talvez porque não me importo mesmo com a seleção (juro que não faço ideia quem joga no time). Mas fiquei pensando na frase “relaxar a cabeça”.

Nestes dias de convulsão nacional e alienação esportiva que estamos passando, a frase ‘relaxar a cabeça’ me transporta a outros pensamentos, bem diferentes da maioria: aldeia indígena; huni; cantoria; fogueira; cheiro da floresta.

terça-feira, 22 de maio de 2018

ASHANINKA DO AMÔNIA: A LUTA CONTINUA...

EM FAVOR DE MADEIREIROS, O MINISTRO ALEXANDRE DE MORAIS (STF) RECEBE RECURSO INCABÍVEL CONTRA OS ÍNDIOS ASHANINKA*
Dr Antonio Rodrigo Machado*


A Terra Indígena Kampa do Rio Amônia foi reconhecida em 1985 como pertencente ao *Povo Ashaninka*. Os primeiros relatos dos portugueses sobre os Ashaninkas são do século XVI, feito por Jesuítas, mantendo até hoje uma forte resistência sociocultural, apesar dos intensos ataques de madeireiros na região.

Durante a década de 80, de acordo com *ação judicial interposta pelo MPF*, a família MARMUDE CAMELI foi responsável por quilômetros de desmatamento na região da Terra Indígena, resultando em benefício de *milhões de dólares em madeira nobre, além de levar diversas doenças aos índios*.

Em ação ajuizada pelo Ministério Público Federal, a família foi condenada em primeira instância (Justiça Federal do Acre), em segunda instância (Tribunal Regional da 1ª Região em Brasília) e no Superior Tribunal de Justiça.

Como o recurso destinado ao STF não foi recebido na segunda instância, o processo terminaria com a decisão do STJ, mas uma manobra jurídica, excepcional e não aceita pela jurisprudência, fez com que o processo fosse ao Supremo Tribunal Federal. Um recurso extraordinário interposto contra a decisão do STJ foi recebido pela própria Corte.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

“AGORA FALA DE UM JEITO QUE EU ENTENDA“: sobre alguns entraves de comunicação para além da língua

Por: Raial Orotu Puri

Bikatani, Madijá!
Itaikiri, Ashenika!
Shara men, Shanenawa!
Shaba unanumamen, Huni Kui!
Bêsuê, Marubo!

Começo este texto com alguns dos termos que tenho aprendido aqui por estas paragens, e que servem como saudação ou quebra-gelo no início de uma conversa. Cabe, no entanto, observar que corro o risco de que alguns estarem grafados incorretamente (e peço desculpas aos leitores por isso!), assim como também é evidente que a simples utilização destas palavras seja suficiente para entabular um diálogo efetivo.

Esta reflexão, portanto, pretende falar sobre conversa, diálogo, compreensão, e, é claro, seus contrários, e também sobre alguns cuidados que me parecem necessários àqueles que acabam de chegar quando precisam estabelecer uma interação respeitosa com os outros.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

MORTES E O KAMBÔ: Displicência, fatalidade ou um ‘problema para as autoridades’?

Por: Jairo Lima

Admito: Tenho me dedicado pouco a religião das letras cursivas. Sei que isso pode parecer displicência com a meia-dúzia de leitores que tenho mas, afirmo: é por uma boa causa, já que as notas musicais e a dedicação ao Sananga Recods tem me consumido o pouco tempo ‘livre’.

Esta semana que passou quedei-me com uma indisposição muito forte, que me afastou das labutas diárias. E assim, enfurnado em meu castelo familiar, deixei que os pensamentos me atormentassem um pouco, como prática para o expurgo das más energias que tentaram se impor sobre mim.

Eu, cá enfurnado, tentei passar despercebido o máximo que pude, mas, na era do Facebook e do endiabrado e intrometido ‘zap-zap’ tal atitude é inútil.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O QUE AS ÁGUAS DE MARÇO ME TROUXERAM ALÉM DO SILÊNCIO DESTES DIAS

Por: Raial Orotu Puri


Março é em muitas coisas o ‘meu’ mês. E talvez neste ano de 2018 tenha sido ainda um pouco mais, devido a ter sido um mês de muitas águas; de navegação, de limpeza, de choro, de partidas e, espero, algum recomeço possível. Quero tentar neste texto sintetizar um pouco sobre essas águas todas...

Começo dizendo que foi um mês intenso, e sua intensidade se fez sentir para mim em muitos âmbitos, e talvez por isso mesmo, a minha resposta a ele tenha sido quase toda feita de silêncio e pensamentos. E. talvez por tanto silenciar, agora falar algo que seja de repente me pareça tão penoso. Mas tentarei.

Pois bem, março, mês de meu aniversário e mês de águas, foi passado quase todo ele em meio a elas, no curso de um rio muito especial para mim, o Bariá, como chamam os Huni Kuin (ou Envira, para os menos íntimos). Mas é claro, não serão apenas destas águas que falarei, ainda que estas em particular tenham guiado muito do que tenho feito. Há, no entanto, outras águas, muitas.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

VOANDO COM OS PÁSSAROS AZUIS...

Por: Jairo Lima

Olhei pro céu... a lua reinava, afastando para longe as nuvens carregadas da benfazeja chuva.

Uma brilhante fogueira pintava o ambiente de um amarelo dourado-escuro, muito parecido com uma velha peça de ouro, transformando todos ao seu redor em vultos ensombrados com sua cor. Esse efeito se fazia principalmente nas formas disformes que a circundavam.

Eu, que também não era mais que um vulto dourado, olhava fixo para a cena que se desenvolvia à minha frente, sem dela conseguir desprender minha atenção para os outros movimentos ao meu redor, ou, ainda, para os que estavam diretamente ao meu lado e que, por vezes, dirigiam-me algumas palavras que eu não absorvia quase nada. Quanto  à cena, esta era formada por formas femininas que rodopiavam em uma dança exótica e singular, traçando no ar formas com os movimentos de seus grandes lenços, enquanto seus corpos moviam-se em harmonia, deslizando pelo ambiente como se flutuassem.

sábado, 17 de março de 2018

BENKI ASHANINKA: ‘É o índio da novela’?

Por: Jairo Lima

O Juruá alterna seus humores entre o calor escaldante e chuvas torrenciais, que alimentam a floresta garantindo-lhe a perenidade e riqueza que nos enche de vida e esperanças.
Nas últimas duas semanas venho participando do frenesi febril e dinâmico que tomou de assalto não só nossa região, mas, também, boa parte do mundo, pelo menos, de um grande número de pessoas ao redor deste.

Não me refiro ao funesto e revoltante assassinato da vereadora Marielle Franco, tombada na guerra sem sentido que assola a Cidade Maravilhosa, e que, com certeza, espelha o desarranjo e abandono que tomou conta de nossa Pindorama. Me refiro a outra situação que, se por um lado não teve o trágico desfecho, ao menos personifica a bagunça generalizada dos valores e virtudes de nossa sociedade: o processo criminal contra o indígena Benki Ashaninka.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

BLA BLA BLA… e eu de volta em 2018...

Por: Jairo Lima



Fevereiro indo para o seu ocaso, e novamente ressurjo para mais um ano de escrevinhações e percepções que nem sempre são as mais coerentes, mas que, de certo modo, afaga-me as angústias.

Desde o final da 1a Conferência Indígena da Ayahuasca que submergi em projetos próprios, como a música, principalmente quando na aventura gastronômica e etílica da festividade utópica e ilusória da ‘virada de ano’, o amigo Rafael Castro inventou de fazer uma interessante ‘macumbagem’ alemã que, entre sustos e risos de todos que dela participaram, e do esforço poliglota do amigo Rafael, ficou claro que 2018 se apresentaria como eu vinha refletindo logo no dia seguinte ao fim da conferência.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

SOBRE LAÇOS, CAÇADAS E VERDADES QUE PRECISAM SER DITAS


Por: Raial Orotu Puri
Para que a leitura deste texto flua, será necessário fazermos um pequeno pacto de aceitação mútua: você provavelmente não vai gostar de lê-lo, tanto quanto eu não gosto de ter de escrevê-lo. Vamos então encará-lo como um mal necessário. No fim – pelo menos espero – o meu e o seu esforço valerão a pena.
Vale dizer que relutei por cerca de meio ano em tocar mais diretamente neste tema, e se o faço  agora, é por sua recorrência, que me informa o quanto urge falar dele. Sim, há fatos a respeito dos quais precisamos ficar silentes, mas há outros que precisam ser abordados, para podermos ser capazes de ultrapassá-los. Este é um deles.
Qual é esse tema? Violência. Mas não violência de qualquer tipo, nem perpetrada contra qualquer pessoa. Preciso falar sobre um tipo de violência específica, praticado contra pessoas específicas. E, por óbvio, nada de violência gratuita aqui, já que o preço imenso dela, nós o temos pagado há séculos. E sim, pode ser que doa em você. E sinceramente, eu até espero que doa. Mas não se desespere: Você verá que não está sozinho nisso!
Tenho lido sobre alguns experimentos sociais que demonstram que quando as vítimas da violência são personificadas, com nome, rosto e um pouco de história, a identificação e a empatia têm mais chance de brotar. É o que pretendo. Portanto, sim, será pessoal. Tanto para mim quanto para você...

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

ENTRE ÍNDIOS E LOUCOS

Por: Claudia Aguirre
Os loucos

Em maio deste findo 2017, participei do Seminário Internacional “Defensoria Pública no Cárcere e a Luta Antimanicomial”, ocorrido no Rio de Janeiro/RJ, representando a Defensoria Pública do Estado do Acre. O objetivo do encontro era tratar do papel da Defensoria Pública em relação às pessoas em sofrimento mental em conflito com a lei submetidas à medida de segurança, procurando estratégias para a efetiva aplicação da Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10216/2001). A medida de segurança é destinada para a pessoa inimputável ou semi-imputável que comete fato descrito como crime. Ocorre que a medida de segurança, ao contrário da pena, não tem prazo determinado: o seu término somente ocorre quando há a cessação sua periculosidade, a ser atestada por laudo psiquiátrico.

Mariana Weigert, professora de Criminologia da UFRJ, numa das mesas do seminário, apontou o exemplo genérico de uma pessoa que pratica um homicídio em razão de um surto de esquizofrenia: o Direito Penal como que se esquece que essa pessoa é esquizofrênica, e ela, ao fim, é penalizada – teoricamente, se diz que essa pessoa é inimputável e que a medida de segurança é para “tratamento”, porém... Vejamos o que ocorre no mundo real  em seguida: Mariana cita o caso de “João”, pessoa submetida à medida de segurança de internação que vivia num manicômio judiciário e que, embora já tivesse recebido indulto, ali continuava, pois os pareceres psiquiátricos indicavam que ele era incapaz de estabelecer qualquer vínculo social e, portanto, não poderia ser liberado. Até que, no último laudo psiquiátrico, encontra-se a informação de que “João” se engajara nas funções da lavanderia do manicômio e ali tinha encontrado algum sentido para sua vida, e que agora mesmo é que não poderia ser desinternado.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

SIÃ KAXINAWÁ: Os povos indígenas e os espíritos da natureza

Contribuindo com as reflexões e debates durante a Conferência Indígena da Ayahuasca, hoje apresentamos as falas do grande liderança Osair Siã Kaxinawá.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

NINAWA PAI DA MATA: Importância das Músicas Tradicionais Indígenas

Contribuindo com as reflexões sobre a importância das músicas tradicionais indígenas, Ninawa Pai da Mata traz suas percepções sobre o tema, durante a 1a Conferência Indígena da Ayahuasca, no dia 15 de dezembro de 2017. Conheça nossa página no YouTube. Se inscreva para receber atualizações automáticas.

sábado, 6 de janeiro de 2018

BIRACI NIXIWAKA YAWANAWÁ: Reflexão sobre expansão da ayahuasca pelo mundo

Como parte dos temas a serem debatidos, Biraci Brasil Nixiwaka Yawanawá iniciou sua participação na 1a Yubaka Hayrá - Conferência Indígena da Ayahausca, refletindo sobre sua experiência e o que vem observando ao longo dos anos, com a expansão do uso da ayahuaska pelo mundo. Faz uma provocação a todos os presentes para que reflitam sobre os desafios que os indígenas vem enfrentando, bem como reconhece o valor de mestres da ayahuaska, como Irineu Serra. Conheça nossa página no YouTube. Se inscreva para receber atualizações automáticas.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

TROCAS E GLOBALIZAÇÃO DA AYAHUASCA: Daiara Tukano

Daiara Tukano participou da 1a Conferência Indígena da ayahuasca. Nesta entrevista reflete sobre a globalização do uso desse patrimônio indígena, o processo de colonização e apropriação dos conhecimentos tradicionais indígenas e traz sua percepção sobre a importância desta conferência. Gravado em 15 de dezembro de 2017. Conheça nossos canais no YouTube!!!