Desenho Ashaninka |
No bairro onde me criei em
Rio Branco, antes de levar uma criança ao médico, a primeira coisa que se fazia
era levá-la a um rezador ou a uma benzedeira.
Acompanhei minha mãe muitas
vezes à casa desse rezador, para que ele afastasse do caçula da família os
“quebranto” que minavam sua saúde. Eu olhava e achava muito interessante que,
como parte do procedimento da reza, ele segurasse a criança de ponta cabeça na
porta de sua casa.
Esse costume de procurar os
rezadores e benzedeiras rareia cada vez mais nas grandes cidades, mas era muito
comum algumas décadas atrás, por estas bandas da Amazônia, isolada e
desprendida do resto do Brasil.
Não nego que, no inicio de
minha vida adulta, sempre fui bem mais adepto do contato com os esculápios e
seus fármacos do que de mãos milagrosas de velhinhos e velhinhas. Mas, como sempre
dizia meu saudoso avô Leônidas: certos
costumes de berço não se perdem quando se engrossa os beiços.
Já adulto, e com algumas
léguas de indigenismo percorridas, lembro que, por volta de 2001, fui acometido
de uma grave alergia na pele. Era uma espécie de urticária que me infernizou
por meses sem que fármaco algum resolvesse. Os especialistas médicos que procurei
tão pouco abrandavam a situação. Tive medo de ser o tão famoso e famigerado
“fogo selvagem”.
E justamente quando a coisa
estava crítica, fui escalado para uma atividade na Terra Indígena Praia do
Carapanã, lar do nosso grande Prof. Dr. Joaquim Maná. Pensei até em desistir,
haja vista a grave situação que me encontrava.
Chegando lá, às vésperas do
dia de São João, após o quebra jejum do dia, contei ao Maná o que me acometia e
este prontamente me indicou uma senhora da aldeia, bem velhinha que, segundo
ele, resolveria meu problema.
E assim, após ser
apresentado a esta senhora, ela, munida de um pedaço de cipó que coletou na
mata próxima, recitou algumas frases ininteligíveis para mim, enquanto cingia
minha cintura com o sarmento que havia colhido. Deu-me algumas instruções e me
dispensou sem mais cerimônias.
Após alguns poucos dias de
uso, numa manhã, ao acordar, percebi que a tal enfermidade já perdera a força
e, no dia seguinte, a mesma desapareceu completamente.