sexta-feira, 31 de março de 2017

A LITERATURA VIVA NO CURSO DE HÃTXA KUĩ

Foto: Beth Lins Specht
Por: Rafael Castro


Em 24 de novembro de 2016 embarquei em um avião rumo ao Acre. Nesse mesmo dia, algumas horas mais tarde, eu pisaria pela primeira vez o solo desse estado que antes me parecia muito mais longínquo do que os pouco mais de dois mil e quinhentos quilômetros que separam sua capital, Rio Branco, da capital mineira,  Belo Horizonte. “É um estado mítico! O  Acre não existe!”, diz a “sabedoria” popular da classe média das grandes metrópoles do sudeste. De fato, para nós que aqui estamos, o Acre parece não existir. Até que, de repente, se está lá. Foi o que aconteceu comigo.

Durante todo o percurso da minha graduação em Letras o Acre não existia. Existiam apenas as literaturas de língua portuguesa e alemã, encarnadas nas geografias de lugares como Rio de Janeiro, Lisboa ou Berlim. Esses lugares sempre existiram. Os autores dessas paisagem sempre existiram. A respeito do Acre, nesse tempo, eu só sabia algumas linhas que havia lido, provavelmente escritas por Euclides da Cunha. Mas não dei muita atenção a elas. Eu estava mais preocupado em decodificar a poesia de Georg Trakl, poeta austríaco do início do século XX, ou em descobrir a linha invisível que perpassa toda a obra de Herberto Helder, seu longo poema contínuo. Foram aprendizados valiosos que, no decurso da minha graduação, me mostraram o que era a literatura e, mais importante ainda, me ensinaram o que a literatura (ainda) não era.

quarta-feira, 29 de março de 2017

SOBRE RAZÃO, SAGRADO INDÍGENA E INSENSIBILIDADE

Por: Raial Orotu Puri


Eu tenho uma parte insensível em meu corpo. Não nasci assim: trata-se de uma espécie de sequela de uma cirurgia que fiz alguns anos para remover de sob meu braço “uma coisa que não devia estar lá”. Bom, a operação foi um sucesso, afora a curiosa sensação da pele junto ao local do corte ter ficado insensível ao toque. Não vou me demorar na explicação científica dessa anormalidade, mas tem a ver com o trauma do corte e a destruição de algumas estruturas responsáveis pela transmissão de estímulos nervosos ao cérebro. Fora algumas fases algo paranoicas a respeito da possibilidade de me machucar e não sentir, o fato em si não chega também a ser uma coisa extremamente desagradável, só é um pouco esquisito ter uma parte de si mesmo que não sente igual às demais. Como já faz uns bons anos desde a cirurgia, tenho a impressão que existe uma probabilidade de que o efeito seja permanente, embora já tenham me falado que demora bastante tempo, mas a pele volta ao normal.  

Também me disseram certa vez que se eu tentasse a acupuntura, poderia reverter esse quadro. Pelo pouco que sei sobre esta técnica oriental, ela de fato faz verdadeiros milagres, sendo capaz inclusive de recuperar a sensibilidade e devolver o movimento ‘normal’ a tecidos danificados e músculos atrofiados, sendo eficaz até mesmo em casos graves, como as sequelas derivadas de um AVC, ou de um acidente. Bom, mas meu caso é do tipo ‘não é para tanto’, e vida que segue.  

segunda-feira, 27 de março de 2017

SOBRE TEMAS DESAGRADÁVEIS E OUTROS ASSUNTOS AFINS...

Autor desconhecido
Por: Jairo Lima

A semana que passou não deixará, pelo menos para mim, nenhuma saudade. Foi cheia de notícias desagradáveis, falsas moralidades e desculpas esfarrapadas por todos os lados. Isso sem contar com a tal moral hipócrita, tão em uso ultimamente que até parece ter se tornado uma das virtudes humanas.
Sento em minha poltrona favorita para escrever a crônica da semana e me deparo com um problema: sobre o que escrever? Afinal, foi uma semana com tantas coisas acontecendo.

Enquanto penso em algo ligo para a esposa. Ela não atende e lembrei que a mesma está em atividade na terra dos Shanenawa, discutindo um interessante projeto de registro das canções tradicionais deste povo. Perguntaria a ela sua opinião sobre eu escrever esta semana a respeito de “educação escolar indígena”. Talvez refletir sobre a letargia que tomou conta do Aquiry nos últimos anos e que fez com que este estado, que outrora ostentou a primazia no assunto, agora dispute um espaço na lanterna, tentando recuperar-se, tendo sido ultrapassado até por outros estados que eram considerados, até alguns anos atrás, péssimos exemplos sobre o assunto.
Não. Assunto muito desanimador sendo que a semana que passou já foi desmotivante demais.

sexta-feira, 24 de março de 2017

UMA MIRAÇÃO – e o que ela tem a ver com a Defensoria Pública Estadual e as/os indígenas

Mulher Madija - Foto: Acampamento Revolucionário
Por: Cláudia Aguirre

Uma miração

 Num sábado à noite recebi o honroso convite para participar de uma rodada de Uni[1] em Mâncio Lima, com a presença de indígenas de várias etnias que estão no centro urbano daquela cidade pelos mais variados motivos - trabalho, tratamento de saúde, estudos, estar de passagem entre um local e outro, e assim por diante. Trata-se de um momento em que elas/es se reúnem pra fortalecer essa irmandade por meio da vivência de suas raízes que o compartilhar do Uni representa. Experiências como esta – que sempre se dão num clima de uma alegria muito sagrada - são uma das muitas provas de que índio/índia na cidade não deixa de ser índio/índia, não: ele/ela carrega consigo a energia de seu povo e de sua terra.

Entre goles de Uni e muita cantoria iniciada sob a lua cheia e estendida até o amanhecer, tive a seguinte miração: a fotografia de um índio sério, com um ar grave, pesado, vestido com uma camisa xadrez fechada até o pescoço, num quadro pendurado numa parede mofada.
A imagem me deu um desconforto muito profundo, uma aflição. Abri rapidamente os olhos. Olhei a lua esplendorosa no céu. Olhei para os parentes, alegremente imersos nas suas músicas. Que alívio.

DEFENSORIA PÚBLICA: o que é e pra que serve

Quadro de Joceane Biscegli
Por: Cláudia Aguirre

Creio que é importante falar no que consiste a Defensoria Pública como instituição. Tal como os direitos dos povos indígenas, a Defensoria Pública tem sua existência prevista na nossa Constituição Federal, mais especificamente em seu artigo 134[01]. Quando este artigo diz que a Defensoria Pública é instituição permanente, isto significa que a sua criação pelos Estados e pela União é obrigatória e, uma vez instituída, não pode ser extinta de modo algum. Por sua vez, ser essencial à função jurisdicional do Estado significa que, para o sistema de justiça funcionar a contento, não basta termos o juiz, o advogado, o promotor de justiça; tem que ter Defensoria Pública.

quarta-feira, 22 de março de 2017

SOBRE ARTE, ARTESANATO INDÍGENA E VISÕES RACISTAS DE ESTÉTICA

Arte de Edilene Sales Huni Kuin
Por: Raial Orotu Puri

A partir do dia 31 de março de 2017 passa a ser obrigatório a todos os comerciantes e agentes de leilão que negociam antiguidades, obras de arte, manuscritos e livros antigos ou raros o cadastramento em uma plataforma virtual, o CNART. A partir dessa data, aqueles que não seguirem procederem ao cadastramento ou não informarem aos órgãos competentes transações consideradas suspeitas estarão passíveis de multas. A fiscalização do setor estará a cargo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Trata-se, em realidade, da regulamentação de uma nova-velha atribuição do Iphan, visto que esta atribuição já se encontrava prevista desde a criação desse órgão em 1937.

O objetivo principal da regulamentação do setor é a prevenção da lavagem de dinheiro, bem como a identificação de objetos passíveis de reconhecimento como integrantes do patrimônio histórico e artístico nacional.   

Travar conhecimento com as regras acerca do tema do comércio de obras de arte – as que existem há oitenta anos, e aquelas que foram publicadas em temos mais recentes* – me fizeram refletir um pouco sobre alguns detalhes mais próximos do patrimônio cultural indígena, e das implicações da hierarquização existente entre aquilo que é ou não considerado ‘arte’ em nosso país.

segunda-feira, 20 de março de 2017

QUANDO O RATO VIRA MORCEGO...

Foto: Sérgio Vale
Por: Jairo Lima

- Tô te dizendo Yube, rato não vira morcego!
- Vira sim! Claro que vira.
- É impossível! Você está enganado, nunca um rato viraria um morcego, pois são animais diferentes! Essa é uma verdade estabelecida pela ciência. Essa tua idéia aí é superstição!
- Tá certo. Você diz isso, mas se passar um tempo na minha aldeia você vai ver que o rato vira morcego.
- Não seja por isso, vou mesmo, e tenho certeza que mesmo que eu passe uma vida lá, ainda assim o rato não vai virar morcego.


Tive este diálogo com o grande amigo José de Lima Yube Huni Kuin, na cidade boliviana de Cochabamba, durante uma viagem que fizemos pelos Andes, em 2001, quando este ainda era um jovem Agente Agrofloroestal de 19 anos. Nos anos que se seguiram a tão estranho diálogo,  Yube tornou-se um grande cineasta e Assessor de Assuntos Indígenas do governo do Acre. O ponto da teima era justamente o fato de que, culturalmente, muitos povos da floresta, entre estes o indígena, crê que o rato vira morcego.

sexta-feira, 17 de março de 2017

KUSANATY: O mundo xamãnico Apurinã - PARTE I

Por: Francisco Apurinã


A dedicação do xamã para se tornar de fato um kusanaty com poderes ilimitados, tanto para praticar o bem quanto o mal, faz dele a pessoa mais importante e mística das aldeias apurinã.

Existem dois tipos de kusanaty: um trabalha somente com a “medicina tradicional”, cuja ervas medicinais encontradas na floresta são utilizadas para banhos, chás e rezas durante rituais de cura; o outro, do qual falarei aqui, opera com poderes xamânicos materializados em pedras introduzidas em seu corpo. São estes os verdadeiros diplomatas do cosmos, aqueles que detêm os conhecimentos tanto para curar, como para causar doenças e até mesmo para matar. São eles que possuem códigos para se comunicar com o mundo dos espíritos da floresta, habitantes de outras terras, e ainda são responsáveis por acontecimentos inusitados que transcendem aquilo que nossos olhos leigos podem ver. Isso ocorre de modo que somente outros pajés com saberes análogos conseguem compreender, como bem ressaltou Katãwyry Apurinã:

quarta-feira, 15 de março de 2017

VENI, VIDI, VICI: sobre estratégias de resistência indígena em meio à sociedade branca cristã Ocidental

Autora: Alice Haibara
Por: Raial Orotu Puri

“Você acha que ele está integrado à sociedade?”

A pergunta foi feita a uma liderança indígena por parte de um Defensor Público, em uma audiência que visava decidir o destino de um jovem indígena envolvido em uma situação de ilícito penal a qual eu assisti alguns dias atrás. De início, a questão não foi plenamente compreendida, razão pela qual o defensor acabou reformulando de uma maneira mais detalhada, para, através disso conseguir que o seu interlocutor respondesse se por acaso aquele rapaz possuía ou não um nível de compreensão necessária do mundo nawa (não-índio) para entender que havia praticado um crime. Apesar de a resposta ter sido dada, ao final desse trecho do diálogo, a equipe empenhada no julgamento acabou por ponderar que uma conclusão precisa para esta dúvida requereria um parecer antropológico.

Não quero aqui adentrar em um debate – até bastante interessante, mas que não me interessa agora – sobre o fato de realmente existir já um entendimento jurídico bastante bem delineado acerca da necessidade do ‘saber antropológico’ no julgamento de querelas judiciais envolvendo indígenas. (E, é claro, o próprio poder atribuído ao antropólogo para definir tais questões é algo que, há tempos, vem sendo alvo de considerações, inclusive por parte dos povos originários, devido às implicações e potenciais problemas daí derivados.) Talvez em algum momento escreva sobre isso... Talvez. Hoje não!

segunda-feira, 13 de março de 2017

SAGRADO INDÍGENA: Retomando o assunto...

Por: Jairo Lima

Já faz um tempo que escrevi um texto sobre não-índios que assumem uma identidade indígena por interesses pessoais, mas este assunto não se esgotou, nem poderia,  afinal é um tema que dá muito pano pra manga.

Cada vez mais observo situações preocupantes que, em vez de reforçar o “Tempo da Cultura” para os Povos Indígenas, como diz o txai Terri, parece nos remeter cada vez mais para um “Tempo da Loucura”, que enredam estes povos em polêmicas e falsas notícias. Afinal, o que tem de gente procurando se dar bem utilizando os conhecimentos tradicionais indígenas ou se fazendo passar por indígena é algo assustador, e vem crescendo cada vez mais, trazendo riscos não só para a imagem destes povos como, também, para os incautos que caem na malha fanfarrona destes sacripantas.  

A coisa tá ficando de um jeito que, em muitos casos, não se pode confiar na “primeira impressão”, quando se é apresentado a alguém, sendo necessário, em algumas situações, fazer uma busca para saber se realmente alguns são o que dizem ser. Esta busca é muito facilitada pelas redes sociais, apesar de que, por vezes, pode suscitar mais dúvidas do que certeza, se não souber “filtrar” as informações que se conseguem. Retomo isso mais adiante.

sexta-feira, 10 de março de 2017

SOU MODERNO...SOU "ÍNDIO"!

Cineasta Indígena - Foto: Carlos Eduardo Magalhães
Por: Dedê Maia


Voltada já alguns meses ao tratamento de minha saúde que andou me avisando que precisava de cuidados, deu saudade de escrever.
E escrever para mim é como uma reza forte. É como deixar escorrer pelas pontas dos dedos as dores, as certezas e muitas dúvidas, as idéias, os sonhos, as alegrias, as reflexões da alma.
Em dezembro de 2016, minha vida parou. Recebi um exame com um diagnóstico bomba: um câncer de colo de útero! Pensei: - Puxa vida! E eu que sempre fiz tudo tão direitinho! Sempre me cuidei e achei que estava protegida com minha saúde invejável! - Amargo engano! Mas, essa experiência me trouxe revelações nunca vividas, nem sentidas. No entanto esse é outro assunto. Qualquer dia desses escrevo sobre.
Retornando a quase “normalidade” da minha vidola, chegando ao final desse tratamento de efeitos colaterais que arrepia a nossa alma, muitos assuntos que fazem parte da minha vida, do meu cotidiano foram fluindo... Como esse rio Acre... Robusto com suas águas de inverno amazônico. E papo de “índio” é o que não falta na minha vida!

quarta-feira, 8 de março de 2017

A QUEM CABE A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO INDÍGENA?


Caipora - Autor desconhecido
Por: Raial Orotu Puri

Eu que gosto muito de histórias. Mais ainda se são histórias ligadas à ‘mitologia’ indígena. Mas eu quero começar essa história com uma reflexão que parte de uma ‘mitologia’ construída a partir de referências bíblicas, e que tem lá o seu quilate de qualidade e fama, sobretudo na cultura ocidental. Na segunda Crônica de Nárnia, “O Leão, a Feiticeira e o Guarda Roupa”, existe uma passagem que considero muito tocante, e que tem me sido evocada de forma recorrente nos últimos tempos. Trata-se da parte da história em que uma das crianças, Edmundo, realiza uma enorme traição em troca um punhado de doces. Por conta dos quadradinhos de manjar turco que tem nas mãos, ele troca informações valiosas sobre alguns amigos de sua irmã mais jovem, e, pela promessa de mais docinhos, promete levar seus irmãos para junto da Feiticeira Branca. Convém notar que, a oferta completa é mais complexa, visto que envolve também a opção entre ser herdeiro sozinho de um reino, ou dividir esse reinado com as demais crianças.

Seja como for, ainda que o que esteja em questão seja um possível reino, o que sela a negociata é o manjar turco. Experimentei este doce há alguns anos atrás, presente de um cunhado depois de uma viagem ‘azoropa’. Lembro de ter, inclusive, feito uma pequena nota a respeito no Facebook, dizendo que os tais docinhos eram até bem gostosos, mas não tanto para valer uma traição. Mas verdade seja dita, eu disse isso com um lugar de fala específico: de alguém que não é lá muito fã de doces em geral, e que se encontrava no conforto e calor de sua casa. Nunca se pode julgar alguém sem ter vivido as mesmas situações, mas de qualquer forma, o que a história do livro pretende também situar, é que existem certas coisas que não se pode vender, por preço nenhum, e muito menos por uma bagatela.

segunda-feira, 6 de março de 2017

CIVILIZAÇÃO DESAPARECE? NÃO!

Crianças Huni Kui - Foto: Stefan Beylen
Por: Jairo Lima

Nesta semana o blog Crônicas Indigenistas estreou mais um espaço de comunicação, desta vez com uma página no Facebook (clique aqui), onde podemos ampliar ainda mais as informações sobre os povos indígenas e temas afins (clique aqui). E algo que me chamou a atenção foi uma mensagem postada por uma seguidora da página:  estou chocada com algo que ouvi de uma pessoa amiga... Ela acredita que a ordem natural é que os indígenas acabem desaparecendo, como as antigas civilizações dos maias e astecas, pois estes precisam de muita terra para manter o estilo de vida...

Tentei ajudar, indicando para leitura um excelente texto da Daiara Tukano, que já citei em texto anterior, de maneira que o papo com a “amiga” da leitora  fosse feito em outro nível, bem mais inteligente e desprovido de “achismos” como este do excerto acima.


Mas a “pangolice” desse pensamento confuso trouxe, ao menos, um bom tema para reflexão e resume, de maneira estupendamente simples, o que boa parte da sociedade yura (não-índia) desinformada acha a respeito dos povos indígenas.

quarta-feira, 1 de março de 2017

QUATRO POEMAS AO ÍNDIOS

Por: João Veras


TESTEMUNHO ACREANO

Eu hoje vi uma mulher indígena pedindo esmola.
Ela estava sentada no chão da calçada suja com uma criança ao colo
que procurava se alimentar em seu peito.

Era no centro da cidade, próxima à escola infantil Menino Jesus.
Ali todos passam, olham para baixo e passam.
O que eu vi hoje, vi ontem...

Hoje eu vi vários indígenas pintados em alerta e em movimento.
Eles estavam para a guerra na defesa da sobrevivência.
Eles reclamam dos péssimos serviços de saúde prestados pela burocracia do Estado.
Serviços esses que não conseguem impedir que várias crianças indígenas morram de diarreia nas aldeias.
o que vi hoje, vi ontem...