sábado, 30 de novembro de 2019

SOBRE PIEGUICES E HIPOCRISIA...

Por: Jairo Lima

Está claro para os que olhos têm que o nosso mundo está cambaleando entre o precipício e as trevas da ignorância. Mas, se pensarmos melhor, o mundo sempre esteve assim, só que mais nuns tempos e menos noutros.

Aqui no mundão do Aquiry indígena (e de seus satélites) não poderia ser diferente e, por vezes, as águas turvas desse rio caudaloso da rotina diária se agitam quando as marolas as comandam, em geral ocasionadas por alguns desavisados que em suas diatribes resolveram opinar ou, mais grave, apontar para onde não deviam, já que, pelo teor do conteúdo que usam como munição, com certeza, a caça que buscam abater sobre estes se voltará e os derrubará.

Muita coisa andou rolando nestes tempos em que não sabemos em que focar nossa atenção, já que os jornais e todas as mídias existentes se esmeram em nos torrar a existência já sofrida e, por vezes pueril, com o circo político das polarizações bizarras e surreais que assolam a Pindorama, mostrando que do baú dos pesadelos nacionais sempre poderíamos nos surpreender, mesmo achando que o século XXI nos traria um ciclo de iluminação e evolução.

domingo, 3 de novembro de 2019

NOTAS SOBRE A 3ª CONFERÊNCIA INDÍGENA DA AYAHUASCA

Por: Jairo Lima

Digo pra vocês: Viajar de monomotor sobre a floresta é algo único, mas ao mesmo tempo, assustador. Tenho medo sim, não nego. No entanto, a outra alternativa para minha ida à cidade de Marechal Thaumaturgo seria uma viagem de quatorze horas de barco que, apesar de achar a experiência um ótimo exercício para concentrar-se no lado ‘zen’ da existência, não estava muito animado a encarar.

Assim, de bom grado fui sacolejando no espaço aéreo entre Cruzeiro do Sul e essa pitoresca cidadezinha no extremo ocidental acreano, tendo como companhia figuras queridas, entre estes a querida Nanë Putanny Yawanawá, Biraci Brasil Nixiwaka Yawanawá e Biraci Iskukua Yawanawá. Nosso destino: Instituto Yorenka Tasorentsi. Local onde seria realizada a 3ª Conferência Indígena da Ayahuasca.

Dessa vez o anfitrião seria o txai Benki Ashaninka que construiu todo o espaço central para o evento em (pasmem) três meses. Uma estrutura linda que se destaca em meio à paisagem quando sobrevoamos a região. Apesar de ser uma instituição privada, o Instituo Yorenka Tasorentsi, capitaneado pelo Benki, tem uma ligação estreita com sua comunidade, Apiwtxa, o que ficou bastante claro ao chegarmos ao local e nos deparamos com muitos Ashaninka caminhando por todos os lados.

O fluxo de aeronaves fretadas era constante nos céus de Mal. Thaumaturgo, assim como os barcos fretados que trouxeram todos os convidados para o evento, totalizando duzentos e cinquenta participantes entre indígenas e não-indígenas. Uma mescla de empolgação e expectativa estava clara no rosto de todos que chegavam.

O resultado do evento foi além das expectativas, mesmo para mim que, por fazer parte do grupo de organização do mesmo, busco sempre injetar aquela positividade salvadora nas horas em que parece que ‘a coisa não vai’ e, digo a vocês que faltando alguns dias para o início da conferência nem comprimido para dormir fazia efeito em mim.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

CARTA ABERTA DAS ORGANIZAÇÕES - 3a CONFERÊNCIA INDÍGENA DA AYAHUASCA


"Nós, representantes de Povos Indígenas do Vale do Juruá – Apolima-Arara, Ashaninka, Huni Kuin, Jaminawa, Jaminawa-Arara, Kuntanawa, Nukini, Puyanawa, Shanenawa, Yawanawá e
Shawãdawa, Noke Koi, reunidos na 3a Conferência Indígena da Ayahuasca, realizada de 10 a 13 de outubro de 2019, no Instituto Yorenka Tasorentsi, no Município de Marechal Thaumaturgo, Acre, Brasil, sob a coordenação do Instituto Yorenka Tasorentsi e da
Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ), com a participação das demais organizações e participantes presentes, após intensos debates, por meio desta:

sábado, 21 de setembro de 2019

BLUPIIII...! TUINPLIN.....! .... TANANANARÃÃÃÃ! – Sobre coisas ‘desimportantes’. Não leiam!


Por: Jairo Lima

Estamos de saco cheio ou só estamos ficando insensíveis???
Hoje acordei pensando em coisas positivas e importantes. Será estranho isso?
Digo isso porque, ao que parece, o mundo anda às turras com a positividade. Parece que estamos cercados de uma negatividade horripilante, que nos deixa com aquela sensação desagradável, igual a aquela quintura que sentimos no auge do verão amazônico, quando a umidade se une com o calor e nos amuquinha* lentamente.

Fazia já um tempo que não me dedicava a observar minhas redes sociais, tendo me limitado, nos últimos meses a uma postagem ou outra, de coisas mais ou menos importantes, que ninguém nem visualiza, certamente e, a outras tantas postagens totalmente inúteis do ponto de vista prático, que igualmente foi devidamente ignorado pelo grupo heterogêneo e, em grande parte, desconhecido de ‘amigos’ que eu adicionei à lista de minhas redes. Claro que muitos não tive o prazer de conhecer pessoalmente, outros que não sei por que adicionei e um bocado que realmente me pergunto como me acharam nesse universo infinito de possibilidades de amizades.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

III CONFERÊNCIA INDÍGENA DA AYAHUASCA: Acordando na primavera...

Por: Jairo Lima











“Boa noite… onde V.Excelência estará, entre os dias 10 e 13 de outubro?” - Perguntei
 “Onde V.Excelência quiser…”  - Foi a resposta.
Diálogo curto, à noite, mas cheio de significados, que tive num primeiro contato em meses com meu amigo Domingos Bueno, através de uma pequena mensagem via zap zap. Nessa mesma noite enviei mais umas quatro mensagens curtas e diretas, com a mesma essência, a algumas pessoas específicas, como a amiga Maíra Dias -  que ficou muito emocionada -, rompendo, assim, mais um pequeno exílio a que me impus nos últimos meses, onde, além de não escrever nada - principalmente depois de tudo o que ocorreu após meu texto sobre o kambô - também ‘sumi’ de boa parte da minha já diminuta vida social.

domingo, 21 de abril de 2019

KAMBÔ: E chegamos a oitava morte em seis meses...

Por: Jairo Lima

Puke Shaya veio nos visitar hoje trazendo notícias de sua aldeia (Shane Kaya), sobre uma oficina de pintura que estão fazendo com a artista argentina Delfna Muñoz, que já vem há alguns anos trabalhando com os Huni Kuin, os Yawanawá e, mais recentemente, com os Shanenawa. É sempre bom quando pessoas positivas vem contribuir com as comunidades.

Vou me inteirando das ‘conversas’ do mundo indígena enquanto passo a vista nas notícias do dia vendo os horrores dos atentados internacionais, as tragédias nacionais e os dramas pessoais de nossa sociedade. Vejo que fui marcado numa postagem recente sobre mais uma morte ocorrida no Chile, envolvendo o uso do kambô. Somando-se a essa tivemos, na semana anterior, outra morte, desta vez na terra da rainha Elizabeth. Creio que, com estes dois sinistros recentes já contabilizam-se oito mortes - conhecidas - nos últimos seis meses.

O que dizer sobre isso? Não sei mais o que escrever que não ‘chova no molhado’ no assunto mas, vamos lá, seguimos.
Certo dia vi em algum comentário que o ‘problema está na aldeia’. Discordo. O problema está nas pessoas, não na aldeia. Claro que tem indígenas vendendo as ‘palhetas’ de kambô, principalmente para atravessadores, alguns destes que não tem discrição alguma de ofertar seu ‘produto’ nas redes sociais, de maneira aberta, mesmo sendo essa prática considerada crime, de acordo com a Portaria da Anvisa de 2004.

domingo, 24 de março de 2019

UM DEDO DE PROSA PARA ESCLARECER A QUE(M) SERVEM AS FAKE-NEWS QUE VOCÊ RECEBE…

Por: Raial Orotu Puri
Nos últimos tempos eu estive às voltas com a minha qualificação do Doutorado, rito esse que finalmente foi ultrapassado no último dia 08/02. E o finalmente é aqui colocado em face de todo um percurso pelo qual passei desde que cheguei ao Acre, e que dentre outras coisas envolveu padecimentos físicos, um quadro depressivo, e a necessidade de trabalhar enquanto pesquisava e escrevia, por motivos de: eu não nasci rica e preciso pagar as contas... (Afinal de contas pós-graduação no modo roots não é na base do versículo bíblico!). 

Em face de tais circunstâncias, é natural que eu tenha andado meio de fora do circuito de debates da internet, embora, uma vez ou outra eu dê uma olhada no que se conversa, ou seja chamada à parte para discutir uma ou outra coisa. Foi assim que esses dias uma amiga pediu ajuda para embasar uma discussão que ela estava travando com um colega, baseada em uma reportagem. Eu já tinha visto a matéria em questão, e mandado-a para o limbo das coisas que nem me dou ao trabalho de comentar, de tão toscas que são. Porém, em consideração ao pedido da minha amiga, tirei a coisa do limbo, reli criticamente e encaminhei para ela algumas reflexões do que eu pensava sobre o assunto e acreditei que a coisa acabava por aí. 

domingo, 10 de março de 2019

WAKA MAIKIRIA

Por: Jairo Lima

Findou o carnaval, pelo menos é o que parece já que hoje em dia não se sabe ao certo quando ele começa e quando termina. 

Sento para escrever minha crônica do mês. Fico matutando se ainda tenho algum assunto para compartilhar com meus poucos leitores. Decido ir ouvir música indígena enquanto navego pelas mídias para me alienar e me informar e, nesse processo alienante vejo no ‘feicebuqui’ que o ator Fábio Assunção esteve por estas bandas, aqui no Acre Indígena, mais precisamente na aldeia Morada Nova, povo Shanenawa, município de Feijó. Ele veio em busca de cura para suas mazelas materiais e espirituais através da força das medicinas indígenas, capitaneadas, claro, pelo ‘Uni’ (Ayahuasca).

Vi as várias postagens sobre essa visita, já que estive ‘fora do ar’ durante todo o piseiro carnavalesco e, nas redes sociais em comum com os parentes Shanenawa vi o sujeito ‘antes’ e ‘depois’ da visita, nas diversas fotos compartilhadas. Bem, a meu ver, excetuando-se a cara de quem não dormiu nada (e isso deve ser comum para ele) o figura parecia bem, até se comprometeu a voltar em setembro.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

DEPOIS DE TANTO TEMPO EM SILÊNCIO, O QUE DIRIA RAIAL ‘DISSO TUDO QUE ESTÁ AÍ’?

Por Raial Orotu Puri
Eu tenho estado silenciosa há um bom tempo. Não é que não aconteceram coisas neste período. Aconteceram. Até demais... E, no entanto... No entanto, às vezes, a tristeza, ou a raiva, ou revolta, ou todas essas coisas, recaem sobre nós de forma tão pesada que fica difícil encontrar palavras que possam ser encadeadas em frases e que permitam dar sentido ao que sentimos. 

... Ocorre também que o silêncio, depois de certo tempo passa a ser um lugar confortável, depois que nos acostumamos com ele. E há ainda a sensação de inutilidade das palavras. Ou de fadiga por ver que o esforço de usá-las foi inócuo. E há também a opinião dos nobilíssimos Guarani, que dizem que o ‘silêncio é o som dos sons’. E é...
Mas... “Você está em dívida com o Blog”, foi a intimação que eu não posso recusar jamais, vinda de meu amigo Samman Poteh..., ele disse. Ele tem razão. Eu sei. E se existe alguém que pode me mover do silêncio, sem dúvida, é ele, que começou esta história de escritas. Pois bem... Tentarei então dizer de tudo quanto houve, a ínfima parte que couber em minhas linhas.

E o que tanto aconteceu?  

domingo, 17 de fevereiro de 2019

PAJELANTRAS, GURULANTRAS, VAIDOS@S E OUTRAS “ANTAS”

Por: Domingos Bueno

 Em um tempo distante alguns poucos humanos tornaram-se mediadores entre realidades transcendentes que aprenderam a acessar, sinalizando dicotomias expressas em noções de indivíduo e coletividade, sagrado (sobre humano, que deve ser restrito à poucos e protegido) e o profano (humano, trivial), permitido ou não permitido, communitas e societas, natureza e cultura.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

A AULA QUE FOI A SEGUNDA CONFERÊNCIA INDÍGENA DA AYAHUASCA

Por: Maíra Dias

Cumprimentando aos leitores deste blog, peço licença ao Jairo para, finalmente, trazer um pequeno registro sobre o que foi, pra mim, a II Conferência Indígena da Ayahuasca (ocorrida em agosto de 2018). Se passaram só alguns meses, mas nesses tempos relativos já parece muito… Me animo a compartilhar agora esse texto, buscando na força da memória daqueles dias inspiração e esperança para ler as notícias sobre povos indígenas e a Funai que temos visto agora. Que a força da floresta, da bebida ancestral e a sensatez desses povos que já assistiram e resistiram tantas vezes aos absurdos impostos pela sociedade não-indígena, possam mais uma vez nos ensinar.

domingo, 6 de janeiro de 2019

VOANDO COM O POVO JAPÓ… - Parte I

Por: Jairo Lima

Meu ‘zap zap’ quase travou o celular devido às muitas mensagens não visualizadas, mas que, graças à tecnologia, eu tinha ideia do que eram: felicitações de ano novo; pedidos de conversas via telefone ou zap para acertar alguns detalhes de projetos; ‘cutucadas’ para saber como estou; correntes de matérias sobre a FUNAI; pedidos de entrevistas; papos informais, etc. O Facebook me mandou mensagem no email, talvez achando que eu ‘atravessei a ponte’, pois, assim como o zap, não estava acessando-o. 

Como faço em todos os anos isolei-me em meu exílio social voluntário, dessa vez, como menos motivos para o retorno social. Cansado, talvez, de saco cheio, com certeza.

Na tranquilidade prazerosa do convívio familiar muitos pensamentos passeiam pela mente, enquanto minguados planos e planejamentos tentam abrir uma pequena abertura em minhas conjecturas existenciais e profissionais. Me pego em lembranças queridas de viagens etéreas com o ‘cipó’ (ayahuasca) e com a vivência recente que tive junto ao ‘povo Japó’ o querido povo Ashaninka… revivo a interessante viagem realizada há menos de um mês atrás: