Foto: arquivo EMBRAPA |
Enquanto fico pensando em como seria gostoso tomar um banho de igarapé, lembro que nesta semana que se inicia estão ocorrendo muitas atividades interessantes neste nosso Juruá. Tem encontro dos Yawanawá para discutir o etnoturismo ocorrendo na aldeia Mutum, do querido Tashka Yawanawá. E também temos a realização de mais uma edição da Feira de Trocas de Sementes da Terra Indígena Kaxinawá do Nova Olinda, alto rio Envira, município de Feijó.
Esta iniciativa é da própria comunidade, através de seus Agentes Agroflorestais, e já está em sua terceira edição. Ideia fomentada com o apoio da EMBRAPA-Acre, que há algum tempo vem desenvolvendo um projeto pioneiro nesta terra indígena.
Nesta terceira edição o evento foi ampliado e contará com a participação de outros povos e representantes institucionais como FUNAI, EMBRAPA e SEAPROF. Entre os Povos Indígenas participantes estão os Kaxarari de Rondônia, Madija, Ashaninka, Shanenawa, Apurinã, Noke Koi e Kaxinawás de outras Terras Indígenas como Jordão, Colônia 27, Praia do Carapanã, Igarapé do Caucho, entre outros.
Vai ser uma grande festa, com certeza.
Foto: arquivo EMBRAPA |
Vai ter roda de rapé, mabush (bebida à base de milho), caiçuma e noites encantadas de huni (ayuasca) embaladas por canções tradicionais. Vai ter também katxa nawa onde todos os "parentes" e txais dançarão e cantarão para os espíritos dos legumes e das plantas. Eita coisa boa!!!
Assim como os demais povos indígenas, os Kaxinawá conservam forte tradição agrícola e experiências como estas é a oportunidade de diversificar ainda mais a produção e ter acesso, ainda, às "plantas de espírito forte" como, por exemplo, o milho tradicional, que atualmente não é encontrado em todas as terras indígenas. Também é o momento de conhecer outras variedades de macaxeira e de trocar ideias quanto à reorganização dos cultivos.
A troca de experiências em eventos como este é algo muito importante, pois é o espaço onde conhecimentos e "tecnologias de plantio e produção" são compartilhadas e vivenciadas na prática.
Hoje tive notícias da frotilha que está subindo o Envira, levando os participantes carregados de sementes e muita animação. Para quem não conhece a região cito que chegar ao Nova Olinda não é uma viagem curta - dura cerca de um dia e meio - mas a chegada ao objetivo, com certeza, vai ser devidamente recompensada.
Neste domingo abrasivo fico imaginando esta viagem. Juro que consigo até sentir o embalo do batelão enquanto sobe o rio, o cheiro da panela com o "rancho" sendo feito; as conversas animadas tendo como som de fundo o motor do barco; a visão dos barrancos passando; as árvores imponentes ora se aproximando, ora se afastando da visão; as curvas intermináveis do rio caudaloso e barrento; a sensação do vento refrescante. E vem a noite onde janta-se na praia e dorme-se no batelão tendo como "música de ninar" os incontáveis insetos e animais da floresta e o burburinho da água do rio. Quem já viajou pelos rios amazônicos sabe do que estou falando.
Infelizmente não estou entre os que irão participar pois outras atividades me prendem a Cruzeiro do Sul e sobre as quais com certeza escreverei em breve.
Pois é, querida Dedê, dá até vontade de largar tudo e correr pra beira do rio né?
Ô domingão quente... que vontade de me jogar em um igarapé...
Jairo Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário