terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

 NÃO SEJA IDIOTA: Cursos para virar pajé ou xamã são enrolação...

Por: Jairo Lima

Se a mensagem está clara para você já no título dessa crônica então não leia o resto...

Mas se está querendo saber mais, aqui vai a moral da história: ou se é muito burro ou realmente um idiota se acredita que fazer um curso desses que anunciam nas redes sociais realmente o farão ser um dirigente espiritual, ou xamã, ou pajé ou qualquer coisa diferente de uma pobre alma ludibriada por aqueles que só querem seu dinheiro.

Me alio ao querido Iskukua Yawanawá que não se cansa de advertir contra essas páginas nas famigeradas redes sociais, que prometem cursos onde é possível você tornar-se um ser espiritual iluminado suficiente para se tornar uma espécie de Harry Potter do mundo moderno, desenvolvendo poderes mágicos que o garantirão como um grande pajé, ou xamã ou ainda um dirigente espiritual, que guiará as almas penadas de seus discípulos pela sinuosas trilhas do mundo espiritual, curando suas chagas existenciais e usando os mais variados recursos para garantir a pureza d`alma de alguém, usando rapé, ayahuasca, sananga, kambô, defumação de maneira irresponsável, juntando a isso toda sorte de alquimias e sortilégios possíveis.

Sério isso?? Pois é. Eu realmente creio que nem os que prometem ensinar isso tudo acreditam no serviço que farão e, realmente, duvido que se entregassem aos cuidados espirituais daqueles que eles mesmos formassem.

Faz parecer que a coisa funciona como uma espécie de autoescola que nos ensina a base de conhecimentos necessários para você conduzir uma veículo, certificando-o como alguém relativamente apto para não se dar mal na existência rodoviária. Simples né?

Não! Tá errada a parada, cara pálida. Tem coisas que não se aprendem em cursinho ou em escolas. E o conhecimento necessário para se tornar minimamente uma criatura menos desgraçada e com um pouquinho de luz na existência não se aprende assim, fácil como tirar bicho de pé.

Atualmente mina de todas as partes, como água na floresta, cursos e vivências onde esquisotéricos prometem a seara bendita para que você possa ser um guru ou alguma espécie de coach que tutelará as almas penadas que lhe procurem. Claro que essas formações precisam do que chamam “força de troca”, um nome bonitinho para PAGAMENTO. Claro!!! Afinal, assim como a teologia da prosperidade, se não rola money o altruísmo fica prejudicado.

Mas, sabe o que mais me deixa de cara com tudo isso? Respondo: Que realmente existam pessoas que se entregam a esse tipo de idiotice. Curso para formar pajelantra, ou pior, súcubos da existência que jogarão na merda aqueles que inadvertidamente buscam algum refrigério para as mazelas de sua existência.

Um bando de esquisotéricos bichos-grilo-do-mal que sacaram ser uma fonte de renda o mundo espiritual. Bando de desavisados ou, pior, mau caráter mesmo que em nome de uma falsa iluminação – que não atrai nem inseto à noite – veem oportunidade de ganhar uma graninha.

Claro que tem txai envolvido em algumas dessas presepadas, não sou infantil por achar que não, mas, com certeza são pouquíssimos, em relação aos nawa (não-indígenas) vendilhões travestidos por aí, que não se sentem mal por adornar o cabeção com cocares indígenas, muitos destes feitos de penas de aves em extinção como o Gavião Real, rei do céu das florestas que vem se escasseando cada vez mais para servir de matéria prima para o ego de ‘branco sem noção’. Pessoas que se dizem tão alinhadas com o espírito e com a natureza, mas que hipocritamente não se envergonham em se transformar em exemplo vivo de devastação ambiental. Eu também pinto as fuças de urucum e jenipapo, uso tecelagem, colares e pulseiras, isso é do jogo, faz bem a conectividade cultural, mas, me sentiria mesquinho, falso e hipócrita se ficasse comprando cocar por ai para mostrar pros outros zé groselha como eu que sou algo mais que eles, numa necessidade doentia de busca por relevância e protagonismo para satisfazer o enorme ego cristalizado, que habita as profundezas de uma mente tacanha e menor que um noz.

Meu amigo Iskukua está muito certo, corretíssimo em levantar essa bandeira contra essa enganação toda que vem pululando em nossa vida, através das telinhas que nos conectam com o mundo.

Se liga, meu povo. Assim como a cultura indígena não é fantasia de carnaval, o mundo espiritual que a sustenta ;e muito mais séria e profunda que qualquer enganação dessas possa ensinar.

E já que chutei o pau da barraca falo logo sobre algo, sobre o qual vou escrever mais no futuro, mas que igualmente me incomoda: chamar as canções indígenas de ‘música de rezo’ é um conceito colonizante e que diminui a beleza dessas canções, pois, pois cada povo tem uma conceituação para suas canções tradicionais, muito mais lindo e profundo, com significados intimamente ligados às suas culturas. 

Quer saber mais? Vai aprender, cara pálida. Mergulhe nessas culturas com a mente e o espírito abertos que, com certeza você beberá na fonte da sabedoria e se tornará alguém muito melhor ante esse mundo caótico que vivemos.

Curso de pajé, música de rezo... sei... cada uma hein?

Boa semana a tod@s.







Jairo Lima

Instagram: jairo_lima_sananga


* Imagem do texto: Getty images (internet)



 

 

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