segunda-feira, 31 de julho de 2017

SOBRE O RAPÉ QUE DÁ BARATO, O SAPO QUE FOI FUMADO E A LISERGIA JORNALÍSTICA…

Autor: Bryan Lewis Saunders
Por: Jairo Lima


Dois assuntos sacudiram as redes (anti)sociais estes dias, pelo menos nas que eu frequento. Não se trata do circo político. O assunto foi sobre o rapé e a ayahuasca, especificamente sobre duas matérias publicadas em jornais de referência que, teoricamente, tem entre seus objetivos a clareza de suas matérias e a certeza do que estão afirmando.
Pois bem.

Assim, dando um tempo do ‘barquinho’ (que prometo voltar em breve), não poderia deixar de dar meu pitaco nestas histórias, melhor, nestas estórias. Estes dois assuntos abrem portas para outras reflexões, que eu mesmo venho martelando no decorrer da jornada iniciada desde a publicação da primeira crônica do blog, no ano de 2016.
Por não me atrever a calar minha ‘pena’ é que também trago minha contribuição, se não para clarear, mas, ao menos, para somar minhas reflexões a alguns colegas que já trataram a respeito do tema, além, é claro, de atiçar mais um pouco a brasa para que ela não se apague.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

APRENDA, MAS ACONTEÇA O QUE ACONTECER, NÃO VIRE BRANCO

Por: Raial Orotu Puri

Esse texto não se destina a ninguém em particular. Talvez a todos, talvez principalmente a mim. Ele também não trata de um assunto em específico, mas de um emaranhado de questões que se erguem numa pilha, e que tem relação com um equilíbrio que me parece cada vez mais um sonho distante de ser mantido... e que, no entanto, ainda é um desejo a ser perseguido.


Ele tem a ver com a tristeza desse eterno momento presente sem futuro, de prenúncios de morte, de alardes de fim de direitos originários (como se alguma vez nesse mundo os indígenas tivessem algum direito além de morrer! Em silêncio. Sem protestos), de adensamento da invisibilidade, de consagração da indiferença, de palavras vazias.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

OS PUYANAWA FIZERAM UMA FESTA, E EU ESTAVA LÁ...

Puwe e Shainay
Por: Jairo Lima

Não sei se é porque estou envelhecendo, ou se é por causa da tensão nacional, ou, ainda, se é por causa da melancolia que toma conta desta parte do Pindorama. O que sinto e percebo é uma loucura geral tomando conta de todos, onde a miríade de postagens, reportagens e afins tomaram um rumo esquizofrênico e sufocante que nos entristece e tenciona o juízo.

No início da semana que passou recebi visitas interessantíssimas: um velho amigo das longínquas areias do deserto egípcio e uma nova amiga, do confuso país, onde um alaranjado presidente sonha com um muro que o separe do resto do ‘mundo americano’. Boa conversa, boa comida e boas lembranças deram o mote para sensações saudosas e perspectivas de futuro mais aprazíveis. Visitas boas, mas que duraram pouco, pois, precisavam seguir viagem. Vieram de longe para prestigiarem uma breve estadia com o ‘Povo do Sapo’, o poderoso povo Puyanawa das margens do rio Môa, na segunda edição de seu Festival da Macaxeira Puyanawa.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

"OS DOIS CAMINHOS”: Alguns pensamentos sobre quadros e fronteiras e algumas notícias de um lindo e memorável encontro.

'Os Dois Caminhos' - Autora: Frida  Kahlo
Por: Raial Orotu Puri

Pessoas que vêm de um mundo pré-internet, pré-face, pré-instagram devem talvez se recordar que antigamente era bem comum que quase todas as casas tivessem certos elementos decorativos bastante recorrentes, independentemente de serem ou não considerados de bom gosto hoje em dia. Os exemplos são muitos: as samambaias, as estatuetas de Buda de costas, os porta-tudo de crochê.

Quero começar esse texto falando de um desses ícones em particular, que certamente assombrou a vida de toda uma geração de crianças, pelo menos na região Sul do Brasil. Em tempo: minha infância se passou entre o Sul e o Centro-Oeste, com que desconheço sobre as infâncias de outras paragens, então me deterei por hora nas referências que eu tenho, o que não impede que alguém que cresceu em outras regiões acabe por se identificar também.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

O SAGRADO INDÍGENA E A DIALÉTICA DO PECADO...- Parte II

Autor: Harry Ini Metsa
Imperfeições e o dualismo do espírito humano...

Por: Jairo Lima

E seguimos em mais um percursos de subida nesse rio de reflexões que iniciamos no texto anterior, indo mais adiante, vencendo cada volta deste rio sinuoso e por vezes mutante.

Como citei anteriormente, a pecha indelével da imperfeição original herdada das aventuras no Jardim do Éden, juntamente com as demais transgressões pecaminosas do nosso ser material e espiritual, nos leva impreterivelmente a um estado de constante imperfeição. Este estado se manifesta em nós principalmente pela busca incansável - e por vezes despercebida - em dar sentido a tudo que nos rodeia, como se este sentido espelhasse diretamente sobre nós mesmos, dando-nos por conseguinte a sensação de que nos encaixamos nesse Cosmos disfuncional, desde que, esse processo de significação não seja interrompido. Daí a necessidade dos rituais dogmáticos e doutrinas estabelecidas que nos possibilitem manter esta conexão.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

O MAL-ENTENDIDO NEOXAMÂNICO PODE SER GIGANTESCO*

Pelo Dr. Jacques Mabit

Traduzido do francês para o português por José Pimenta**

“Xamanismo amazônico” / “estudantes ocidentais”. A justaposição destes dois termos mergulharia sem dúvida os nossos antepassados na perplexidade, mas se tornaram familiares para nós. No entanto, de acordo com um especialista, a nossa confiança tranquila esconde um equívoco perigoso. Não se atravessa ingenuamente os milênios que separam a modernidade da magia pré-histórica! O alarme é ainda mais justificado por vir de um terapeuta que não temeu pela sua reputação, saindo do caminho seguro para ir ao encontro apaixonado de “curandeiros” da selva. Amigo de Jeremy Narby ou Jan Kounen, ele vê o turismo xamânico com um olhar preocupado. Há mais de dez anos, o Dr. Jacques Mabit organiza estágios para ocidentais com xamãs da Amazônia peruana. No início, sua ação se concentrava nos viciados em drogas, para os quais a “visita “mágica” à sua interioridade. paradoxalmente, os livraria da droga. Mas, aos poucos, o “neoxamanismo” virou moda e o centro Takiwasi (O pássaro que canta) aceitou abrir suas portas a um público cada vez maior. Hoje, Jacques Mabit faz um balanço e seu discurso é mais que ambivalente. Segundo ele, muita ingenuidade, uma impaciência infantil, hábitos aconchegantes e uma longa ruptura com a natureza e o corpo selvagens e, acima de tudo, uma ignorância estúpida e generalizada da dimensão simbólica verdadeiramente vivida, associada com a hipertrofia do ego, fazem do encontro entre ocidentais e xamãs, mais frequentemente do que poderíamos pensar, um mercado de ilusões. E como o objeto do mal-entendido não é nada mais que o despertar da consciência, a ilusão pode rapidamente se transformar num labirinto assustador. A seguir, partes de um artigo do Dr. Jacques Mabit publicados no verão de 2005 na revista Synodies.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

UM ESTADO DE ‘MAIS VIDA’: A realidade de um grupo Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul

Autor: Petterson Silva
Por: Raial Orotu Puri


Graças à benesse do meu irmão Roberto, eu recentemente passei a ter acesso ao fantástico mundo do Netflix, e, embora não esteja em condições de aproveitar muito esse privilégio classe média, devido às minhas limitações de tempo e necessidades de dar conta de uma infinidade de demandas, vez ou outra, permito uma pequena parada para assistir algum filme ou série. Foi assim que, dia desses, me interessei por assistir “The Oa", uma série de oito capítulos que conta a história de uma moça que, tendo estado desaparecida por sete anos, reaparece envolta em vários mistérios, dentre eles, o fato de ter recuperado a visão.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O SAGRADO INDÍGENA E A DIALÉTICA DO PECADO...- Parte I

Planetarius Land, 1983
Começando a viagem’...


Por: Jairo Lima


"Vanitas vanitatum et omnia Vanitas"*

Acordei hoje pensando nessa frase que, em sua essência, nos esbofeteia a cada momento, quando paramos para refletir seu significado.
Não percebi de início o porque desta citação em especial, oriunda das catacumbas sagradas do Velho Testamento, ter alguma importância neste meu amanhecer asmático de julho, quando a falta de umidade me lembra da insignificância existencial humana diante do clima amazônico.

No decorrer do dia, entretanto, enquanto me dedicava ao prazeroso trabalho de finalização do livro da Dedê Maia, meus pensamentos divagavam sobre algumas impressões que andei tendo no decorrer da semana. Impressões estas suscitadas por um excelente texto** indicado pelo amigo José Pimenta, antropólogo e professor na UNB.
Resolvi, então, iniciar hoje uma ‘viagem’ um pouco mais longa, estendendo esta crônica. Não no sentido de criar teoria ou explicações para o que quero refletir, mas, sim, no sentido de expandir e mergulhar mais fundo no entendimento desta contínua busca pela compreensão e entendimento do sagrado.

Assim, convido aos que quiserem embarcar comigo para que me acompanhem nessa jornada e, para os que não tiverem interesse… nos vemos na volta.
Então… vamos lá...

quinta-feira, 6 de julho de 2017

SOBRE REALIDADES QUE ESCAPAM ÀS PALAVRAS...

Ou sobre palavras que não podem comportar a vida...
Por: Raial Orotu Puri


Para entender esse texto, gostaria de propor uma pequena analogia: se você tem em suas mãos apenas um filete de palha, você só consegue riscar o chão. Agora se você junta uma quantidade considerável de filetes, e o ata em um feixe, e depois junta outros mais em número adequado, e então faz uma vassoura, e com ela você pode varrer um terreiro. Pois bem, o processo dessa reflexão que aqui proponho é parecido com este, visto que com ele, tenho intenção de fazer uma pequena faxina na minha cabeça, limpando-a de certa quantidade de ideias que, no fim, podem ser atadas em um conjunto, visto que estão ligadas a uma mesma questão problemática para mim, qual seja, a impossibilidade de decodificação de certas coisas da vida em palavras, sobretudo em textos, mais ainda em textos acadêmicos.

Quero avisar de antemão que, dado que o tema é a dificuldade de expressão, não tenho muitas pretensões de que o texto chegue a ser um portento da escrita. E peço, também de antemão, desculpas sinceras a quem se engasgar com essa poeira toda e não entender nada.  

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A POLITICALHA TROPICALIENTE: quando os ‘bicho de ruma’ começam a chegar às aldeias…

Obra de Joseane Biscegli
Por: Jairo Lima

E vem aí 2018…

Eu sei que o ansiado mês de dezembro ainda está relativamente longe, e com ele
aquela sensação de que, com a mudança de calendário anual, tudo será diferente. Infelizmente, como estamos descobrindo a cada dia, 2016 começou e até hoje parece não ter terminado.

E mesmo tendo a sensação de continuidade do ano anterior, ao que parece, pulamos direto para as portas do seguinte. E por que acho isso? Simples. Basta ver a sanha de futuros candidatos e de políticos posando para fotos nas comunidades indígenas aqui pelo Aquiry. Todos seguindo o protocolo de sempre: cocar na cabeça, pote de caiçuma nas mãos, cara de feliz, urucum no rosto, postado ao lado de um txai fazendo o sinal de ‘legal’, com o polegar…

Claro que as câmeras não mostram um outro lado destes candidatos: a carinha de nojo na hora de beber um gole (bem pequeno) de caiçuma, o desconforto por estar suado e com insetos rondando, os assessores fazendo piadinhas nos ouvidos uns dos outros e rindo de alguma coisa que ninguém sabe o que é, os celulares tirando fotos sem que seus donos tenham sequer pedido autorização, etc.